Novembro de 2024 marcou a temporada mais salgada para quem pretende cruzar o Nordeste de avião. A Latam vendeu passagens a R$ 910,67 em média, superando — já descontada a inflação — o pico de 2009. A Gol não ficou atrás: o tíquete médio pulou de R$ 606 para R$ 884 entre agosto e novembro, variação de 46 %. Enquanto isso, a Azul recuou 3,5 % no mesmo período, mas manteve a tarifa de R$ 828, patamar ainda elevado. Paradoxalmente, o litro do querosene de aviação (QAV) caiu 14,6 % no trimestre, de R$ 4,17 para R$ 3,56. Por que, afinal, o bolso do passageiro continua sangrando? A resposta envolve escassez de assentos, custos dolarizados e algoritmos que farejam picos de procura em segundos.
Passagens Aéreas no Nordeste batem recorde histórico
Alta temporada com oferta enxuta
As companhias mantiveram a malha ligeiramente abaixo dos níveis pré-pandemia. Dessa forma, cada assento se torna precioso quando a demanda explode nas férias de fim de ano.
Voo caro apesar do QAV mais barato
Embora o combustível pese cerca de um terço da planilha de custos, outros 50 % se ancoram no dólar — leasing, peças e seguro, principalmente. Assim, o recuo do QAV vira alívio apenas na aparência.
Anatomia de um bilhete: de onde vem o aumento?
Imposto estadual vira combustível invisível
O ICMS sobre o QAV varia de 12 % a 25 %, dependendo do estado. Portanto, voos que decolam onde o tributo é mais alto já nascem caros e arrastam o preço de conexões.
Hubs concentrados ampliam o “pedágio”
Fortaleza, Recife e Salvador abrigam a maioria das conexões. Se você sai de João Pessoa ou Aracaju, quase sempre embarca em dois trechos e paga o dobro de taxas aeroportuárias.
Algoritmos de revenue management em ação
Sempre que o sistema detecta aumento de busca para uma data específica, ele eleva o valor em minutos. Além disso, cookies e histórico de navegação ajudam a calibrar o quanto você tende a aceitar pagar.
QAV em queda: por que não vemos desconto na prática?
Câmbio anula a economia
O dólar saltou de R$ 4,90 para R$ 5,30 em 2024. Logo, a diminuição nominal do QAV perde força, pois a moeda norte-americana encarece tudo que a empresa precisa importar.
Foco em margem para recompor caixa
Depois de anos de prejuízo, as companhias decidiram capturar qualquer folga para recuperar balanços. Como resultado, o repasse positivo ao passageiro demora — ou simplesmente não vem.
Impactos: turismo, saúde e competitividade regional
Lazer pode virar luxo
Agências nordestinas relatam aumento de cancelamentos para o Réveillon. Afinal, famílias preferem trocar o voo caro por praias locais acessíveis de carro.
Pacientes em Tratamento Fora de Domicílio sofrem
Quando o bilhete custa mais de R$ 1.000, prefeituras adiam viagens de saúde ou apelam a rotas com conexões longas, piorando o desconforto de quem já está fragilizado.
Pequenos negócios perdem fôlego
Feiras de artesanato, encontros gastronômicos e congressos regionais veem queda no número de expositores, pois a passagem consome até 20 % do lucro esperado.
Como economizar sem abrir mão do destino
Compre entre 40 e 60 dias de antecedência
Nesse intervalo, a maioria das companhias ainda oferece tarifas de inventário “neutro”. Depois disso, a curva sobe quase verticalmente.
Avalie hubs secundários e trechos terrestres
Voar para João Pessoa em vez de Recife, ou para Maceió em vez de Salvador, pode economizar até 30 % — mesmo somando ônibus executivo ou aluguel de carro.
Milhas inteligentes
Calcule o custo por milha (CPM). Se o resgate exige pontos que custariam mais de R$ 0,04 cada, talvez seja melhor guardar milhas e pagar em dinheiro.
O que empresas, governos e Anac podem (ou devem) fazer
Vincular redução de ICMS a metas de tarifa
Desoneração sem contrapartida vira lucro extra. Portanto, estados poderiam exigir teto de preço ou frequência mínima como condição para o incentivo.
Abrir espaço para companhias regionais
Linhas de crédito a jatos de 70 a 100 lugares ativariam aeroportos subutilizados e quebrariam a dependência dos três grandes players.
Transparência algorítmica
A Anac poderia exigir que empresas divulguem, ao menos em painel agregado, como variáveis de demanda e ocupação influenciam o valor final. Assim, passageiros entenderiam melhor o preço que pagam.
Para onde voaremos daqui a cinco anos?
À primeira vista, o trilho do preço segue ascendente. Entretanto, fatores como combustíveis sustentáveis (SAF), “céu aberto” para estrangeiras e transporte multimodal podem virar o jogo. Caso o setor se feche em defesa de lucros de curto prazo, arrisca perder clientes para ônibus premium, caronas colaborativas ou até trens de média velocidade — projetos já esboçados nos planos logísticos federais.
Passagens Aéreas no Nordeste – Dúvidas frequentes
Vale a pena esperar promoções relâmpago?
Sim, mas elas surgem cada vez mais curtas. Cadastre alertas e ative notificações para não perder a janela de algumas horas.
Conexão sempre fica mais barata?
Geralmente, sim. Porém, se a rota direta ainda tiver muitos assentos, o preço pode empatar. Compare antes de decidir.
Passagens em milhas ficam escassas na alta temporada?
Ficam. Companhias bloqueiam parte do inventário. Portanto, resgate com antecedência ou escolha datas flexíveis.
O ICMS menor garante bilhete barato?
Não por si só. Se não houver monitoramento de tarifa, o desconto tributário vira margem de lucro.
O QAV vai continuar caindo?
Imprevisível. Se o petróleo subir ou o dólar disparar, o litro volta a pressionar custos, e a passagem segue a mesma rota.