Estrela morta em sistema binário é responsável por sinais que intrigavam cientistas há anos
Por décadas, astrônomos detectaram pulsos de rádio enigmáticos vindos do interior da Via Láctea, ocorrendo com intervalos regulares de duas horas. Agora, um estudo publicado na revista Nature Astronomy revelou que esses sinais vêm de uma anã branca orbitando uma anã vermelha – um fenômeno raro que desafia a compreensão da astrofísica moderna.
Essa descoberta marca a primeira vez que transientes de rádio de longo período (LPTs) são associados a uma estrela anã branca, desafiando a teoria de que apenas estrelas de nêutrons poderiam produzir esse tipo de sinal.
A Descoberta dos Pulsos Cósmicos
Os pulsos foram detectados pelo Low-Frequency Array Telescope (LOFAR), uma rede de radiotelescópios espalhados pela Europa. Eles duravam entre 30 e 90 segundos e se repetiam de forma rítmica, um comportamento incomum para esse tipo de emissão de rádio.
A cientista Dra. Iris de Ruiter, da Universidade de Sydney, liderou a pesquisa que identificou a origem do fenômeno:
“Descobrimos que esses sinais vêm de uma anã branca altamente magnetizada, interagindo com sua companheira, uma anã vermelha. Essa é a primeira vez que um sistema binário desse tipo é associado a pulsos de rádio de longa duração.”
O sistema binário recém-descoberto foi nomeado ILTJ1101 e está localizado a 1.600 anos-luz da Terra.
Como Esses Pulsos São Gerados?
Os pesquisadores acreditam que os pulsos de rádio são causados pela interação magnética intensa entre as duas estrelas. Existem duas hipóteses principais:
1️⃣ Campo Magnético da Anã Branca → A anã branca pode ter um campo magnético extremamente forte, gerando emissões de rádio periódicas.
2️⃣ Interação Magnética com a Anã Vermelha → Os campos magnéticos das duas estrelas podem estar se conectando e liberando energia conforme elas orbitam uma à outra.
Os astrônomos observaram que a órbita desse sistema binário é extremamente curta, durando apenas 125,5 minutos. Esse fator pode estar intensificando a geração dos pulsos de rádio.
O Que Essa Descoberta Significa?
Antes dessa pesquisa, acreditava-se que apenas estrelas de nêutrons eram capazes de produzir explosões rápidas de rádio (FRBs) ou pulsos mais longos. A nova descoberta amplia a compreensão dos cientistas sobre como diferentes tipos de estrelas podem emitir ondas de rádio.
O professor Charles Kilpatrick, da Universidade Northwestern, explicou a importância da descoberta:
“Ainda há uma grande questão sobre se esses transientes de rádio de longo período e as explosões rápidas de rádio fazem parte de um mesmo fenômeno ou se são eventos distintos no universo.”
Essa descoberta também pode impactar a busca por vida extraterrestre, já que sinais de rádio são um dos principais alvos de programas como o SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence).
E Agora? O Próximo Passo dos Cientistas
Os astrônomos planejam novas observações do sistema ILTJ1101 usando telescópios de raios-X e ultravioleta, na tentativa de compreender melhor as interações entre as estrelas.
“Os pulsos podem desaparecer e reaparecer ao longo do tempo. Estamos ansiosos para continuar observando esse sistema e entender o que está por trás desse comportamento único.”
– explicou a Dra. de Ruiter.
Além disso, cientistas acreditam que há muitos outros sistemas binários na Via Láctea capazes de produzir sinais semelhantes, mas que ainda não foram detectados.