Em tom firme e irônico, a primeira‑dama Rosângela “Janja” da Silva garantiu nesta segunda‑feira (19.mai.2025) que continuará usando sua voz para defender crianças e adolescentes, mesmo diante de protocolos diplomáticos ou pressões políticas. A declaração foi feita na abertura da Semana Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, em Brasília — o primeiro evento público após a polêmica gerada por sua intervenção sobre o TikTok durante reunião reservada entre Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente chinês, Xi Jinping, na semana passada.
“Eu não me calarei”
“Eu fico feliz que vocês me convidaram e que eu vou poder falar, que não vou precisar ficar calada. O protocolo aqui me deixa falar”, ironizou Janja logo no início do discurso. Em seguida, reforçou que nenhuma convenção cerimonial será capaz de silenciá‑la quando o assunto for a proteção de crianças: “Não há protocolo que me faça calar se eu tiver oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa, do mais alto nível ao cidadão comum”.
Bastidores da viagem à China
A intervenção de Janja ocorreu durante jantar restrito em Pequim (13.mai), quando Lula questionou Xi Jinping sobre eventual cooperação no regulamento global de plataformas digitais. Janja pediu a palavra para detalhar os riscos do TikTok — controlado pela chinesa ByteDance — relatando casos brasileiros de exploração infantil, cyberbullying e violência de gênero. O vazamento do diálogo, qualificado por Lula como “fogo amigo”, irritou o Planalto e expôs fragilidades na contenção de informações confidenciais.
“Minha mulher não é cidadã de segunda classe. Ela entende mais de rede digital do que eu”, declarou o presidente, defendendo o protagonismo da esposa.
Pressão interna e “república do off”
Nos bastidores, auxiliares do Planalto apontam que o episódio acirrou a disputa entre alas do governo. A Secretaria de Comunicação, chefiada por Sidônio Palmeira, já havia orientado ministros a evitar vazamentos extraoficiais — prática apelidada de “república do off”. O novo incidente reforça planos de criar protocolo de confidencialidade em viagens presidenciais: celulares recolhidos e termos de sigilo específicos para participantes.
Plataformas digitais no alvo
Janja ampliou a crítica às big techs: “As redes sociais, os jogos online, os grupos de mensagem fazem parte do cotidiano dos nossos filhos — e os riscos são reais: violência virtual, aliciamento, bullying e acesso a conteúdos criminosos podem acontecer a qualquer momento”. A primeira‑dama defende que o PL 2630/2020 (Lei das Fake News) inclua salvaguardas específicas para o público infantojuvenil e sanções a empresas que não removam conteúdos ilícitos.
Repercussão política
- Apoio social — ONGs de proteção infantil e movimentos feministas elogiaram a postura de Janja, que “trouxe o tema para a mesa mais poderosa do planeta”.
- Críticas de opositores — Parlamentares do PL acusaram a primeira‑dama de “extrapolar funções” e pediram sua convocação à Comissão de Relações Exteriores da Câmara.
- Aliados cautelosos — Parte da base argumenta que o governo precisa melhorar a coordenação interna para evitar ruídos que desviem foco de acordos estratégicos com a China.
Próximos passos
- Grupo de trabalho Brasil‑China sobre segurança digital — Em formação no Itamaraty, com participação de Justiça, MCTI e sociedade civil.
- Protocolo anticrise — Casa Civil prepara manual para viagens internacionais com regras claras de quem pode falar e como registrar reuniões confidenciais.
- Campanha #InternetSegura — Janja liderará, a partir de junho, série de lives educativas em parceria com Unicef, TSE e influenciadores.
“Eu não me calarei quando for para proteger nossas crianças e adolescentes”, concluiu Janja, sob aplausos de ministros e representantes de entidades de defesa da infância.