Carlos Lupi deixou oficialmente o Ministério da Previdência nesta sexta-feira (2), após reunião com o presidente Lula. A decisão veio em meio à maior crise recente da Previdência Social. As investigações revelaram um esquema bilionário de descontos indevidos que atingiu aposentados de todo o país.
Mais de 4 milhões de beneficiários foram prejudicados
A Polícia Federal e a CGU descobriram um esquema que operou entre 2019 e 2024. O golpe envolvia descontos compulsórios ligados a entidades sindicais e associativas. Essas instituições, com base em convênios firmados com o INSS, subtraíam valores diretamente da aposentadoria dos beneficiários.
De acordo com auditorias da CGU, cerca de 97,6% dos entrevistados negaram qualquer vínculo com essas entidades. Ao todo, mais de 4,1 milhões de aposentados sofreram prejuízos. O total desviado, segundo os investigadores, alcança R$ 6,3 bilhões.
Lupi não foi investigado, mas perdeu sustentação
Embora não tenha sido citado nas investigações, Carlos Lupi perdeu força política dentro do governo. A nomeação de Gilberto Waller Júnior para presidir o INSS, feita sem consulta a Lupi, sinalizou o esvaziamento de sua autoridade na pasta.
Em sua carta de demissão, o ex-ministro afirmou:
“Meu nome não apareceu nas investigações. Ainda assim, acredito que os culpados devem ser punidos com rigor.”
Lupi chegou a prestar esclarecimentos à Comissão de Previdência da Câmara. No entanto, sua exposição pública não foi suficiente para conter a crise. O desgaste político tornou a sua permanência inviável.
Congresso reage com pressão por CPI
Logo após a revelação do esquema, parlamentares da oposição protocolaram pedido de abertura de uma CPI. O objetivo é investigar as responsabilidades do governo, dos sindicatos e das entidades envolvidas.
Além disso, a base governista tenta evitar que a comissão avance e se torne palco de desgaste para o Planalto. A preocupação é compreensível. Afinal, o escândalo afeta diretamente uma parcela socialmente vulnerável da população.
Governo monta força-tarefa e promete devolução
Em resposta à crise, o governo suspendeu todos os convênios com as entidades investigadas. Simultaneamente, a AGU, a Dataprev e o novo comando do INSS iniciaram uma força-tarefa. O objetivo é revisar os contratos, identificar os aposentados lesados e viabilizar o ressarcimento dos valores indevidamente cobrados.
Durante pronunciamento no Dia do Trabalhador, Lula reafirmou esse compromisso:
“Cada centavo desviado será devolvido. Vamos garantir justiça para os aposentados.”
Ainda não há um prazo para os pagamentos. Apesar disso, o governo promete agilidade.
Wolney Queiroz assume com missão de reestruturar a pasta
O ex-deputado federal e secretário executivo da pasta, Wolney Queiroz, assume o Ministério da Previdência. Sua nomeação tenta preservar o apoio do PDT ao governo e restaurar a confiança pública no INSS.
Entre os desafios imediatos, estão a reestruturação dos processos internos, o reforço da fiscalização e a implementação de controles mais rigorosos. Além disso, caberá a Queiroz articular com o Congresso para evitar danos maiores à imagem do governo.
O escândalo do INSS expõe fragilidades estruturais
A saída de Lupi não encerra a crise. O caso evidencia falhas profundas no controle da máquina pública. A reação do governo, portanto, precisa ser mais do que simbólica. É necessário oferecer uma resposta robusta, com transparência e responsabilização.
Nesse contexto, a condução da força-tarefa e o andamento das apurações serão decisivos. O governo Lula enfrenta agora o desafio de resgatar a confiança de milhões de beneficiários prejudicados — e demonstrar que não permitirá novos abusos.