Em entrevista à revista norte-americana The New Yorker, publicada nesta quinta-feira (8), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Lula comparou o discurso do republicano ao anarquismo e advertiu sobre o perigo que tais declarações representam para as instituições democráticas.
“Era praticamente o mesmo discurso que os anarquistas faziam no Brasil e na Itália no início do século passado, defendendo uma sociedade sem instituições, onde prevalece o domínio absoluto do capital”, declarou Lula.
Segundo o presidente brasileiro, Trump tem adotado uma retórica irresponsável, que fragiliza os sistemas democráticos e a governança internacional.
Críticas à postura republicana nos EUA
Lula mencionou especificamente o comportamento de membros do Partido Republicano durante discursos de Trump no Congresso americano. Sem citar eventos específicos, o presidente destacou que os parlamentares republicanos aplaudem qualquer declaração do ex-presidente, mesmo quando estas não possuem base factual ou lógica clara.
“Aqueles republicanos [estavam] aplaudindo qualquer bobagem que ele dizia”, afirmou o líder brasileiro à revista.
Para Lula, esse comportamento reforça a ameaça às instituições, aumentando a vulnerabilidade das democracias contemporâneas.
Alerta sobre crise do multilateralismo
Durante a conversa, Lula também expressou preocupação com o retrocesso das instituições democráticas surgidas após a Segunda Guerra Mundial. Na avaliação do presidente, os valores de respeito à diversidade, soberania nacional e cooperação multilateral estão em risco devido às políticas implementadas por líderes como Trump.
“A democracia com a qual aprendemos a conviver após a Segunda Guerra Mundial, o funcionamento do multilateralismo como papel importante nas relações entre os Estados, o respeito à diversidade, à soberania de cada país, está agora desaparecendo”, alertou Lula. “O que virá depois, não sabemos.”
Lula critica estratégia americana na guerra da Ucrânia
Outro tema abordado pelo presidente foi a guerra entre Rússia e Ucrânia. Lula criticou diretamente a estratégia adotada pela administração anterior de Joe Biden, afirmando que os Estados Unidos estavam mais interessados em enfraquecer militarmente a Rússia do que em alcançar uma solução pacífica para o conflito.
Atualmente na Rússia para participar das comemorações do 80º aniversário da vitória dos Aliados contra a Alemanha nazista, Lula tenta dialogar sobre caminhos diplomáticos para resolver a guerra no leste europeu. Entretanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, minimizou recentemente o papel de Lula como mediador, afirmando que ele não possui mais relevância no cenário internacional para intermediar o fim do conflito.
“Se a paz acontecer, organizada por Trump, ele vai ganhar o Prêmio Nobel da Paz, e a Europa vai ter que pagar pela Otan, vai ter que financiar a guerra e terá que reconstruir a Ucrânia”, comentou Lula com ironia.
Nobel da Paz e ambição pessoal
O presidente brasileiro não esconde sua própria aspiração ao Nobel da Paz, prêmio entregue a pessoas que contribuíram significativamente para o diálogo internacional e a estabilidade global. Em março de 2024, Lula chegou a sugerir que alguns laureados receberam a honraria sem merecimento claro.
Essa declaração pode ser interpretada como uma crítica indireta à possibilidade de Trump conquistar o Nobel antes dele. A hipótese parece incomodar Lula devido às fortes divergências políticas e ideológicas que mantém com o ex-presidente norte-americano.
Contexto global das declarações
As críticas de Lula surgem em um cenário internacional complexo, caracterizado pela polarização política, nacionalismo exacerbado e fragilização das instituições democráticas. Enquanto Trump continua exercendo forte influência política e mobilizando uma base populista nos Estados Unidos, líderes como Vladimir Putin ampliam sua presença no cenário global com discursos autoritários.
Nesse contexto, Lula tenta reforçar sua posição como defensor do multilateralismo e da estabilidade democrática internacional. Ao associar Trump ao anarquismo, o presidente brasileiro procura acentuar a diferença entre sua visão progressista e a postura do líder republicano.
“Você vê lideranças como Trump discursando contra as instituições, e isso é preocupante porque afeta diretamente a estabilidade mundial”, destacou Lula.
Com tais posicionamentos, Lula busca não apenas alertar sobre os riscos da retórica extremista, mas também fortalecer o papel diplomático brasileiro, que ele considera essencial na mediação de conflitos globais e na promoção da democracia.