Em maio de 2025, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) se tornou o centro de uma crise política que ameaça a estabilidade do governo Lula. A revelação de um esquema de fraudes no INSS expôs falhas administrativas graves e isolou politicamente o ministro da Previdência, Carlos Lupi. Ele avalia pedir exoneração ainda nesta semana. Enquanto isso, o PDT sinaliza rompimento com o governo caso a exoneração se confirme. A crise, portanto, não apenas ameaça a imagem do Executivo, como também compromete a articulação no Congresso.
Auditorias revelam padrão sofisticado de fraudes desde 2023
As investigações começaram em 2023, quando cruzamentos de dados internos apontaram inconsistências na concessão de benefícios. Carlos Lupi ordenou 268 apurações, revelando um padrão alarmante de irregularidades. Entre os principais problemas identificados, destacam-se:
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Cadastros falsos utilizados para simular vínculos e obter aposentadorias;
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Emissão de documentos adulterados por servidores ou intermediários;
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Falhas na integração entre bases da Previdência, Receita e Justiça do Trabalho.
Além disso, o diretor encarregado pelas auditorias entregou os resultados com meses de atraso. Ele foi exonerado somente em julho de 2024. O caso ganhou nova dimensão após a nomeação de Gilberto Waller Júnior para presidir o INSS, decisão tomada sem consultar Lupi ou o PDT.
Ministro tenta se defender, mas revive desgaste do passado
Em 29 de abril, Carlos Lupi compareceu à Câmara dos Deputados para explicar as ações do governo. Na ocasião, ele alegou que medidas de prevenção estavam em curso e que o combate às fraudes era prioridade da pasta.
“Não escondemos problemas. Pelo contrário, estamos enfrentando-os com seriedade e transparência”, afirmou.
Apesar disso, parlamentares criticaram a lentidão na reação e o fato de o escândalo ter vindo à tona apenas após a nomeação de novo comando no INSS. Para muitos, a gestão Lupi perdeu capacidade de liderança. Não por acaso, o episódio trouxe à memória o escândalo de 2011, quando o ministro deixou o governo Dilma após suspeitas em convênios com ONGs.
PDT impõe condição: Lupi no cargo ou rompimento com o governo
A crise ganhou contornos partidários. O PDT, sigla presidida por Lupi em licença, já anunciou que não permanecerá na base aliada caso o ministro seja exonerado. O líder do partido na Câmara, deputado Mário Heringer (PDT-RS), declarou:
“Se demitir nosso presidente, não podemos permanecer em um compartimento político que não preza por reciprocidade e fidelidade.”
Com isso, o governo Lula enfrenta novas dificuldades:
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Perde força em votações críticas no Congresso;
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Enfrenta riscos à tramitação da reforma previdenciária e à aprovação do orçamento de 2026;
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Abre espaço para que outras legendas revejam sua posição na base.
Lula avalia saída negociada e nome técnico para conter a crise
No Palácio do Planalto, a avaliação é de que manter Lupi desgasta o governo. No entanto, uma exoneração mal conduzida pode provocar rachaduras graves na coalizão. Por isso, o presidente considera uma transição negociada, que preserve minimamente o espaço político do PDT.
Duas alternativas estão em análise:
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Manter Lupi até a votação de pautas prioritárias e então substituí-lo;
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Trocar o comando da pasta imediatamente, mas compensar o PDT com cargos em outras áreas.
Portanto, a decisão exige cálculo político cuidadoso. Afinal, qualquer movimento brusco pode abalar ainda mais a frágil base parlamentar.
INSS inicia medidas para restaurar credibilidade institucional
Enquanto o impasse político prossegue, o novo presidente do INSS começa a implementar ações emergenciais. O plano em execução inclui:
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Auditorias externas em concessões realizadas entre 2022 e 2025;
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Integração automatizada com bases da Receita Federal e Justiça do Trabalho;
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Aplicação de inteligência artificial para detecção de padrões suspeitos;
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Revisão de normas internas e redistribuição de servidores em áreas críticas.
Essas medidas têm como objetivo recuperar a confiança da população. No entanto, sua efetividade dependerá da estabilidade política no topo do ministério.
Escândalo previdenciário se transforma em crise institucional
A crise das fraudes no INSS ultrapassou os limites da gestão administrativa. Ela transformou-se em um teste real para a solidez do governo Lula. Caso Carlos Lupi deixe o cargo, o impacto político pode ser profundo: não apenas pela eventual saída do PDT, mas pelo efeito simbólico de um ministro cair, mais uma vez, sob suspeita de falhas no combate à corrupção.
O governo terá que escolher entre preservar sua base ou afirmar um compromisso mais duro com a ética pública. Seja qual for a decisão, ela definirá o tom da governabilidade daqui para frente.