Na próxima segunda-feira (5/5), David H. “Chip” Gamble Jr. chegará a Brasília em uma missão de alto impacto diplomático. Coordenador interino de sanções do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Gamble lidera o Office of Sanctions Coordination (S/SC) e é o principal formulador da política americana de pressões econômicas. A visita, articulada pelos filhos de Jair Bolsonaro, Eduardo e Flávio, tem como alvo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e, possivelmente, outras autoridades brasileiras. Em pauta, estão propostas de veto de entrada nos EUA, congelamento de ativos e restrições comerciais, entre outras medidas de retaliação.
Contexto e origens da missão
Desde o fim do mandato de Donald Trump, setores do bolsonarismo estreitaram laços com influentes círculos conservadores norte-americanos. Eduardo Bolsonaro, hoje diplomado informalmente como representante parlamentar nos EUA, e o senador Flávio Bolsonaro organizaram encontros em Washington para discutir estratégias de “retaliação” contra o Judiciário brasileiro.
Nesse ambiente, surgiu a proposta de convidar David Gamble — oficial de carreira do Senior Foreign Service, classificado como Conselheiro — para trazer ao Brasil a experiência adquirida em diversas frentes globais. Por esse motivo, embora a visita não tenha caráter oficial do governo Biden, ela representa um movimento político de peso.
Quem é David H. “Chip” Gamble Jr.
Gamble possui um currículo que combina experiência diplomática e militar:
- Serviço exterior: Conselheiro do Senior Foreign Service, com passagens por Filipinas (duas vezes), Afeganistão, Cazaquistão, Polônia e Rússia.
- Papel no NSC: Diretor para a Rússia e Ásia Central no Conselho de Segurança Nacional.
- Missões bilaterais: Atuou como Conselheiro Econômico nas Filipinas e Chefe Adjunto de Missão interino.
- Setor privado: Consultor de segurança nacional na MPRI e Booz Allen Hamilton.
- Militar: Oficial da Reserva do Exército, com serviço na Coreia do Sul e no Afeganistão; condecorações incluem a Medalha Estrela de Bronze e o Prêmio de Serviço Excepcional do NSC.
- Formação: Graduado pelo College of William and Mary, pós-graduado pela Escola Eisenhower da Universidade de Defesa Nacional; fluente em russo e polonês.
- Vida pessoal: É casado com Anna Gamble, também servidora pública do Departamento de Estado, e tem dois filhos.
Consequentemente, sua presença em Brasília simboliza a intenção de aplicar uma agenda diplomática de pressão contra o STF.
David H. “Chip” Gamble Jr., Coordenador Interino de Sanções dos EUA
Pauta das reuniões em Brasília
De acordo com apurações do Metrópoles, Gamble se reunirá com:
- Senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ): discutindo a linha de ação política e possíveis aliados no Congresso.
- Antigos aliados de Jair Bolsonaro: incluindo encontro extraoficial com o ex-presidente.
- Lideranças conservadoras: empresários e ONGs que apoiam punições ao STF.
Entre os temas sob análise, destacam-se:
| Medida proposta | Efeito esperado |
|---|---|
| Veto de entrada nos EUA | Proibir vistos e o ingresso em território americano |
| Congelamento de ativos financeiros | Bloqueio de contas em bancos americanos |
| Restrições comerciais indiretas | Impedir empresas americanas de negociar com alvos |
| Inclusão de novos nomes na lista | Procurador-Geral, juízes auxiliares do STF |
Moraes e a pressão conservadora
Alexandre de Moraes ganhou visibilidade internacional ao relatar inquéritos como:
- Fake news e crimes contra a democracia.
- Atos antidemocráticos de 8 de janeiro.
- Bloqueio de perfis em redes sociais e prisão de aliados de Bolsonaro.
Por outro lado, grupos conservadores alegam abuso de poder e censura. Essa narrativa ecoa entre aliados de Trump e alimenta a ofensiva diplomática articulada por seus simpatizantes no Brasil.
Reações institucionais
Itamaraty e governo Lula
- Silêncio oficial: sem comunicação do Ministério das Relações Exteriores.
- Preocupação diplomática: assessores do Planalto consideram a visita uma tentativa de ingerência em assuntos internos.
STF
- Monitoramento ativo: ministros acompanham o caso e avaliam responder institucionalmente.
- Alerta sobre soberania: sanções a magistrados podem criar precedentes perigosos.
Efeitos políticos
A iniciativa de sanções internacionais contra Moraes se insere numa estratégia de internacionalização da narrativa de perseguição. Por isso, pode ser usada como ferramenta de mobilização eleitoral em 2026.
Além disso, mesmo que as sanções não avancem, o gesto político já cria tensão institucional significativa.
A visita de David Gamble vai além da diplomacia tradicional. Ela demonstra, sobretudo, a estratégia do bolsonarismo de articular apoio externo para enfraquecer decisões internas do STF. Com isso, pressiona o governo Lula a reagir com firmeza e coloca o Judiciário em rota de colisão com setores conservadores internacionais.
