A base eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) continua frágil no maior colégio eleitoral do país. Segundo pesquisa divulgada em maio de 2025 pelo Instituto Paraná Pesquisas, 63,1% dos eleitores do Estado de São Paulo desaprovam o atual governo federal, número idêntico ao registrado em fevereiro — antes do escândalo bilionário envolvendo fraudes no INSS.
O dado revela um cenário consolidado de insatisfação, onde nem mesmo a repercussão negativa da Operação Sem Desconto, deflagrada pela Polícia Federal para investigar descontos indevidos em aposentadorias, foi capaz de abalar ainda mais a imagem de Lula. Isso porque, para boa parte dos paulistas, o governo já é visto como ineficiente, distante e pouco confiável.
A pesquisa: números que se repetem, rejeição que se mantém
Realizada entre os dias 1º e 4 de maio, a sondagem ouviu 1.700 eleitores de 85 municípios paulistas, com margem de erro de 2,4 pontos percentuais e grau de confiança de 95%. A principal pergunta foi:
“De uma maneira geral, você diria que aprova ou desaprova a administração do presidente Lula até o momento?”
As respostas foram:
-
Desaprova: 63,1%
-
Aprova: 33,9%
-
Não sabe / Não opinou: 3%
Os números se mantiveram praticamente inalterados em relação à rodada anterior, de fevereiro. Na ocasião, a fraude de R$ 6,5 bilhões no INSS ainda não havia vindo à tona. Mesmo assim, a reprovação já atingia o mesmo patamar atual.
Esse comportamento indica que o escândalo, embora grave, não causou uma ruptura de opinião, pois a avaliação negativa já estava cristalizada entre os paulistas. Eis a íntegra (PDF – 515 kB).
Percepção detalhada: mais da metade vê o governo como “ruim” ou “péssimo”
Quando a análise avança para a qualidade da gestão, a fotografia do descontentamento se torna ainda mais nítida. Ao serem questionados sobre como classificam o governo Lula, os resultados foram:
-
Péssima: 43,9%
-
Ruim: 8,9%
-
Regular: 23,4%
-
Boa: 15,0%
-
Ótima: 7,2%
-
Não sabe / Não opinou: 1,5%
Ou seja, 52,8% consideram o governo entre ruim e péssimo, enquanto apenas 22,2% o avaliam positivamente. Outros 23,4% classificam como “regular”, sinalizando uma base indecisa ou pouco entusiasmada.
As comparações com fevereiro mostram variações marginais. A reprovação é estrutural, não conjuntural.
Escândalo do INSS e demissão de Lupi não alteram percepção
Um fator que poderia ter agravado ainda mais a avaliação do governo foi o escândalo das fraudes no INSS, que estourou no final de abril. A Operação Sem Desconto revelou uma rede de descontos ilegais em benefícios previdenciários, aplicados sem autorização dos aposentados. O rombo é estimado em R$ 6,5 bilhões.
A crise levou à demissão do então ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), e à exoneração do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Mesmo assim, os índices de desaprovação continuaram estáveis, sugerindo que o escândalo apenas reforçou convicções já formadas.
Para o eleitor paulista, a gestão petista já era considerada ineficiente antes mesmo das revelações da CGU e da PF.
SP permanece como território adverso para o PT
O Estado de São Paulo é historicamente desafiador para o Partido dos Trabalhadores em eleições presidenciais. Em 2022, Lula perdeu no segundo turno para Jair Bolsonaro (PL) com uma diferença superior a 2 milhões de votos.
Desde então, a reconstrução da imagem do petismo no Estado tem sido lenta e enfrenta obstáculos estruturais: rejeição à figura de Lula, dificuldade de diálogo com o empresariado local, críticas à condução da economia e frustração com promessas de campanha.
Mesmo com a implementação de programas sociais e o anúncio de obras do PAC, os efeitos eleitorais ainda não se materializaram nas pesquisas.
Eleições municipais e o desafio da recuperação
Com as eleições municipais de 2024 no radar, o governo Lula intensificou articulações com prefeitos aliados e movimentos sociais para tentar recuperar espaço no Estado. No entanto, a rejeição elevada pode comprometer o desempenho de candidatos apoiados pelo Planalto, especialmente em cidades médias e na capital paulista.
Além disso, a oposição tenta nacionalizar o debate local, usando a figura de Lula como contraponto. Se essa estratégia prevalecer, a desaprovação em SP pode se refletir nas urnas mesmo fora do contexto federal.