O escândalo envolvendo fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) desencadeou uma crise interna no governo federal, marcada por divergências públicas entre o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e o titular da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius de Carvalho. A tensão entre os dois ministros tem gerado apreensão entre parlamentares da base aliada, que temem impactos negativos na articulação política e o avanço de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) sobre o caso.
Rui Costa critica atuação da CGU
Em entrevista ao jornal O Globo, Rui Costa afirmou que a CGU falhou ao não alertar o alto escalão do governo sobre as irregularidades no INSS, o que teria impedido uma resposta mais rápida e eficaz. Segundo ele, a função da CGU é preventiva, e não apenas corretiva ou punitiva.
“Ao fim e ao cabo, nós deixamos passar dois anos, período no qual mais pessoas foram lesadas, para poder corrigir o problema. O papel da Polícia Federal não é mesmo o de avisar nada a ninguém, é apurar ato criminoso. Ela está no papel dela, correto, sem reparo. Agora, a função de qualquer Controladoria é preventiva e não corretiva ou punitiva”, declarou Rui Costa.
As declarações de Costa geraram desconforto no governo e foram vistas como um “fogo amigo” que pode enfraquecer a imagem da gestão Lula no combate às fraudes.
Vinícius de Carvalho rebate críticas
O ministro da CGU, Vinícius de Carvalho, respondeu às críticas destacando que a Controladoria realizou auditorias e alertou o INSS sobre a necessidade de aprimorar os controles internos. Ele ressaltou que a CGU atua de forma preventiva, mas que, diante da identificação de irregularidades, é natural que a atuação preventiva se transforme em repressiva
“Muitas vezes, a atividade de prevenção vira repressão porque você identifica um problema e aí você tem que atuar. Como o ministro Jorge Messias falou, tinha um crime sendo cometido contra os aposentados brasileiros”, afirmou Carvalho
Carvalho também enfatizou que, entre 2024 e 2025, a CGU realizou cerca de 70 operações especiais em parceria com a Polícia Federal, demonstrando o compromisso do órgão com a prevenção e o combate à corrupção.
Preocupação na base aliada
Parlamentares da base governista manifestaram preocupação com o impacto das divergências entre os ministros na articulação política. Eles temem que a exposição pública das desavenças enfraqueça a posição do governo e facilite o avanço de CPIs sobre as fraudes no INSS.
“Esses atritos internos são tudo o que a oposição quer. Dá munição para a CPI e enfraquece a linha de defesa do governo”, comentou um deputado do PSD, sob reserva.
A oposição já se mobiliza para instalar uma CPI do INSS, com o objetivo de investigar as irregularidades e responsabilizar os envolvidos. A base aliada trabalha para evitar a instalação da comissão, mas reconhece que a crise interna dificulta a articulação.
Governo busca conter danos
Diante da repercussão negativa, o governo tenta conter os danos e alinhar o discurso entre os ministros. Rui Costa procurou Vinícius de Carvalho para esclarecer que suas críticas não foram pessoais, mas sim direcionadas à falta de informações sobre a extensão das fraudes. O presidente Lula, por sua vez, cobrou discrição e foco na resolução do problema, evitando novos desgastes à imagem do governo
Além disso, o governo estuda medidas para aprimorar os controles internos do INSS e evitar novas fraudes. Entre as propostas estão a revisão dos convênios com entidades associativas e a implementação de sistemas de biometria facial para autorizar descontos em benefícios previdenciários.
A crise no INSS expôs fragilidades na articulação interna do governo e gerou preocupações na base aliada sobre os impactos políticos das divergências entre ministros. A busca por soluções rápidas e eficazes, aliada à necessidade de unidade no discurso governamental, será fundamental para conter os danos e evitar o avanço de CPIs que possam comprometer ainda mais a imagem da gestão Lula.