O sepultamento de Papa Francisco na Basílica de Santa Maria Maggiore, neste 26 de abril de 2025, transformou uma manhã nublada de Roma num marco histórico para a Igreja Católica. A Praça de São Pedro pulsava com fiéis de todos os continentes, reunidos para a liturgia que finalizou um dos pontificados mais ousados das últimas décadas. Nesse sábado, Jorge Mario Bergoglio realizou seu gesto derradeiro: repousar fora das grutas vaticanas, no santuário mariano que ele visitou desde 2013. Assim, a procissão que levou o caixão de cipreste pelas ruas do centro histórico realçou, mais uma vez, a preferência de Francisco por gestos simples e por espaços ligados ao povo.
Sepultamento de Papa Francisco: da enfermaria ao luto global
Francisco faleceu em 21 de abril, aos 88 anos, após complicações respiratórias que se agravaram nas últimas semanas. Assim que o Vaticano anunciou o óbito, a Santa Sé abriu a câmara ardente em São Pedro por três dias. Mais de dois milhões de peregrinos passaram diante do caixão, transformando a praça num mosaico de bandeiras argentinas, brasileiras, filipinas e congolesas. Além disso, líderes políticos elogiaram o diálogo inter-religioso promovido pelo pontífice, enquanto organizações de direitos humanos recordaram a encíclica Fratelli Tutti, que clama por “um mundo sem muros”.
Sepultamento de Papa Francisco: missa exequial na Praça de São Pedro
Logo ao amanhecer de 26 de abril, centenas de milhares de fiéis ocuparam cada espaço da praça. O cardeal decano Giovanni Battista Re presidiu a missa exequial, conduzida em latim, italiano e espanhol; desse modo, a liturgia refletiu a identidade multicultural do primeiro papa latino-americano. Durante a homilia, o celebrante recordou encontros de Francisco com moradores de rua entre as colunas de travertino e destacou sua coragem ao enfrentar escândalos financeiros. Além disso, o coral entoou “Somos Pueblo que Camina”, hino popular das comunidades de base argentinas, momento que levou muitos fiéis às lágrimas.
Traslado até Santa Maria Maggiore
Encerrada a missa, a Guarda Suíça abriu caminho para o popemobile transportar o caixão além das muralhas vaticanas. Francisco insistiu nesse veículo descoberto para repetir o percurso aberto que caracterizou seus primeiros passeios de 2013. Ao longo da Via della Conciliazione, moradores de Roma lançavam pétalas de rosa sobre a capota transparente. Enquanto isso, crianças imigrantes agitavam terços de madeira entregues por voluntários da Cáritas. Portanto, o cortejo combinou luto, devoção e afirmação social, reproduzindo, em escala reduzida, a marca do pontificado.
Rito de sepultamento e cripta inédita
Dentro de Santa Maria Maggiore, o cardeal camerlengo Kevin Farrell conduziu um rito simples, assistido apenas por familiares e alguns cardeais. Pedreiros lacraram o caixão num nicho lateral, ao lado do túmulo de São Pio V, reformador do século XVI. A lápide de mármore branco recebeu a inscrição “Franciscus PP. I — 2013-2025” e ganhou um ramo de oliveira de Assis, símbolo de paz que recorda a encíclica Laudato Si’. Assim, o papa que pregou uma Igreja em saída encerrou a vida terrena num espaço acessível a qualquer romeiro, fora dos palácios pontifícios.
Por que Santa Maria Maggiore?
Bergoglio cultivou laços profundos com a basílica mariana bem antes da eleição. Na madrugada anterior ao conclave de 2013, ele caminhou até o ícone Salus Populi Romani para rezar em silêncio. Depois da eleição, visitou o templo na primeira saída oficial e, antes de cada viagem, retornava para confiar o itinerário a Maria. Portanto, a escolha do túmulo obedece a uma coerência espiritual constante. Além disso, Santa Maria Maggiore fica fora das muralhas leoninas e recebe romanos comuns, turistas e imigrantes recém-chegados, cenário que expressa a opção pastoral de Francisco pelas periferias.
Repercussão imediata
Minutos após o sepultamento de Papa Francisco, a hashtag #GraciasFrancisco liderava as principais redes sociais. Plataformas digitais registraram centenas de milhares de menções em poucas horas. Além disso, jornais europeus publicaram editoriais que destacaram a mediação de Francisco no degelo entre Cuba e Estados Unidos e seu apoio decisivo ao Acordo de Paris. Enquanto isso, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil convocou vigílias simultâneas em Aparecida, Belém e Porto Alegre. Comunidades indígenas Yanomami também lembraram a videoconferência na qual o papa defendeu proteção internacional para a Amazônia. Assim, o impacto da despedida ultrapassou confissões e fronteiras, demonstrando o alcance universal de sua mensagem.
Legado pastoral e desafios futuros
Com a lápide selada, o debate sobre continuidade e mudança ganhou força na Cúria Romana. Francisco criou ministérios laicais para mulheres, descentralizou parte do poder financeiro e lançou o Sínodo sobre Sinodalidade para envolver todo o povo de Deus nas decisões colegiadas. Contudo, setores conservadores criticam sua abertura ao diálogo com pessoas LGBTQIA+ e a firmeza contra abusos sexuais. Ainda assim, o colégio cardinalício convocou o conclave para começar até 10 de maio. Observadores apontam Matteo Zuppi, Wilton Gregory e Jean-Marc Aveline como possíveis sucessores. Portanto, a próxima eleição definirá se a Igreja seguirá a trilha de Francisco ou retomará um perfil mais conservador.
O túmulo, agora acessível aos peregrinos que entram na basílica, confirma o último ensinamento de Francisco: a fé deve permanecer ao alcance de quem sofre. Assim, cada romeiro que se ajoelha diante do ícone mariano observa, a poucos metros, a lápide do papa que transformou o papado em palco de gestos simples e discursos corajosos.
