Conclave de Maio: O Futuro da Igreja Católica nas Mãos dos Cardeais
Vaticano se Torna o Centro do Mundo em uma Escolha Decisiva
O Vaticano vive dias de expectativa máxima enquanto 133 cardeais se reúnem para o conclave que definirá o sucessor do Papa Francisco. A votação, marcada para 7 de maio, promete ser uma das mais estratégicas da história moderna da Igreja, refletindo não apenas questões internas, mas também profundas mudanças sociais, geopolíticas e espirituais que desafiam o catolicismo no século XXI.
O termo italiano “papabile” — reservado aos cardeais com chances reais de ascender ao trono de São Pedro — é mais que um rótulo: é a tradução de uma esperança global, em tempos de polarização e incerteza.
O futuro pontífice será chamado não apenas a liderar a Igreja em sua fé, mas também a administrar suas relações diplomáticas, enfrentar crises morais internas e articular respostas a dilemas contemporâneos como migrações em massa, secularização acelerada, guerras e mudanças climáticas.
Quem São os Favoritos? Cenários e Perfis em Disputa
🇮🇹 Pietro Parolin: A Continuidade Diplomática
Com carreira sólida no Vaticano, Pietro Parolin encarna o perfil diplomático clássico da Santa Sé. Secretário de Estado desde 2013, Parolin foi figura-chave em processos históricos, como a reaproximação entre Cuba e Estados Unidos e o controverso acordo Vaticano-China sobre a nomeação de bispos.
Sua vasta experiência diplomática e sua discrição são vistas como trunfos. Contudo, o peso de acusações financeiras envolvendo setores da Secretaria de Estado e a falta de forte presença pastoral o colocam em uma posição ambígua. Em tempos de demandas por transparência e renovação, seu perfil “burocrático” pode ser tanto uma âncora quanto uma vela.

Cardeal Pietro Parolin Secretário de Estado da Santa Sé desde 2013.
🇮🇹 Matteo Zuppi: O Pacificador que Conquista Além da Igreja
Entre as apostas mais fortes está Matteo Zuppi, um cardeal que sintetiza a busca por diálogo, reconciliação e presença ativa no mundo contemporâneo. Sua trajetória inclui a mediação da paz em Moçambique e o papel de enviado do Vaticano para a guerra da Ucrânia.
Zuppi também é uma presença emblemática dentro da própria Itália, tornando-se uma voz respeitada entre fiéis, agnósticos e não crentes. Essa capacidade de diálogo além dos limites religiosos é vista como essencial para a sobrevivência da Igreja num mundo cada vez mais plural.
Especialistas apontam que a eleição de Zuppi poderia representar a consolidação de um catolicismo de rosto humano: mais preocupado com os pobres, com os refugiados, com a construção de pontes em um planeta de muros.

Cardeal Matteo Zuppi Presidente da Conferência Episcopal Italiana desde março de 2022.
🇮🇹 Pierbattista Pizzaballa: A Fé Resistente em Meio ao Conflito
Menos conhecido fora dos círculos eclesiásticos, o cardeal Pierbattista Pizzaballa emerge como uma figura de profunda resiliência espiritual. Patriarca latino de Jerusalém, sua liderança em tempos de intensificação dos conflitos no Oriente Médio revelou não apenas coragem, mas também uma fé comprometida com a ação concreta.
Seus gestos — como oferecer-se como refém para salvar crianças sequestradas — são vistos como símbolos de uma Igreja que não teme se imiscuir nas dores do mundo real. A eleição de Pizzaballa sinalizaria uma Igreja voltada às periferias mais sofridas da humanidade, mas também carregaria o risco de implicações políticas em conflitos ainda em curso.

Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém
🇵🇭 Luis Antonio Tagle: A Ponte com a Ásia e os Pobres
Vindo das Filipinas, o cardeal Luis Antonio Tagle representa não apenas a Ásia, mas também a vitalidade da Igreja nos continentes onde ela mais cresce. Conhecido por seu estilo humilde e sua defesa apaixonada dos marginalizados, Tagle é visto como um continuador natural das prioridades pastorais de Francisco.
Entretanto, resistências ligadas a sua gestão da Caritas Internacional e à sua ascendência chinesa — em um momento de tensões com Pequim — tornam sua candidatura complexa em termos diplomáticos.
Ainda assim, a eleição de Tagle simbolizaria a verdadeira universalização da liderança católica e o reforço de uma Igreja que fala a linguagem dos pobres e dos migrantes.

Cardeal Luis Antonio Tagle, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos
Outros Nomes na Corrida: A Diversidade como Possibilidade
Vários outros cardeais são vistos como alternativas viáveis, caso os favoritos se neutralizem mutuamente:
-
Jean-Marc Aveline (França): defensor da integração entre cristãos e muçulmanos.
-
Mario Grech (Malta): articulador do Sínodo dos Bispos, com forte perfil de diálogo interno.
-
José Tolentino de Mendonça (Portugal): teólogo-poeta, admirado por sua visão cultural profunda da fé.
-
Robert Francis Prevost (EUA): especialista em governança e administração eclesial.
-
Arthur Roche (Reino Unido): referência na liturgia contemporânea.
Esses nomes reforçam a diversidade cultural e ideológica que marca o Colégio de Cardeais atual, majoritariamente formado sob o papado de Francisco.
Perfil dos principais concorrentes
Candidato | Cargo/Função | Pontos Fortes | Pontos de Atenção |
---|---|---|---|
Pietro Parolin | Secretário de Estado do Vaticano | Diplomacia global; experiência no Oriente Médio e Cuba | Perfil burocrático; pouca vivência pastoral |
Matteo Zuppi | Presidente da Conferência Episcopal Italiana | Mediação de paz em Moçambique; alinhamento com Francisco | Ligação a correntes progressistas; sustentabilidade política |
Pierbattista Pizzaballa | Patriarca Latino de Jerusalém | Atuação humanitária em Gaza; espiritualidade de fronteira | Proximidade com conflitos; pode polarizar votos |
Luis Antonio Tagle | Arcebispo emérito de Manila | Carisma popular; defesa dos pobres; “Francisco asiático” | Críticas administrativas à Caritas; sensibilidade China |
Além desses, papéis de bastidores indicam atenção a cardeais como Jean-Marc Aveline (França), Mario Grech (Malta) e Robert Prevost (EUA). Nomes conservadores como Peter Erdő (Hungria) também mobilizam pequeno bloco fiel.
Um Movimento Conservador é Possível?
Ainda que minoritário, o setor conservador da Igreja buscará se aglutinar ao redor de Peter Erdő, cardeal húngaro respeitado pela ortodoxia doutrinária. Contudo, sua proximidade com o governo autoritário de Viktor Orbán e sua percepção como excessivamente eurocêntrico limitam sua capacidade de conquistar apoios além de sua ala.
Num conclave onde cada voto é estratégico, a habilidade de construir pontes e de representar a Igreja globalmente serão provavelmente mais determinantes do que a reafirmação de tradições antigas.
O que Está em Jogo Neste Conclave?
Mais do que apenas a eleição de um novo papa, o conclave de 2025 representa uma escolha de rumo:
-
A consolidação ou a reversão das reformas iniciadas por Francisco.
-
O fortalecimento da presença da Igreja em novos polos de crescimento, como Ásia e África.
-
A resposta da Igreja aos grandes desafios globais, como as guerras, a crise climática, as migrações e o avanço do secularismo.
Cada cardeal votante levará para a Capela Sistina não apenas sua fé, mas também uma visão de qual papel a Igreja deve exercer em um mundo que muda a cada dia.
Seja quem for o escolhido, o novo papa carregará sobre seus ombros não apenas a tiara simbólica do sucessor de Pedro, mas também as esperanças e os medos de 1,3 bilhão de católicos espalhados por todos os continentes.
E o mundo assistirá atento — da primeira fumaça preta até o esperado momento da fumaça branca e da tradicional proclamação: “Habemus Papam!”