Às vésperas de uma nova rodada de negociações com os Estados Unidos, o governo do Irã reiterou que seu direito ao enriquecimento de urânio é inegociável. A afirmação veio nesta quarta-feira (16), por meio do ministro das Relações Exteriores, Abbas Araqchi, em resposta a declarações do principal negociador norte-americano, Steve Witkoff, que defendeu a eliminação completa do programa nuclear iraniano como pré-condição para qualquer acordo diplomático.
“Ouvimos declarações contraditórias de Witkoff, mas as posições reais serão esclarecidas na mesa de negociações”, afirmou Araqchi. “Estamos prontos para construir a confiança em relação a possíveis preocupações sobre nosso programa nuclear, mas o princípio do enriquecimento é um direito legítimo e inegociável”, acrescentou.
Disputa estratégica por soberania e segurança
O enriquecimento de urânio é um dos temas mais sensíveis na política externa iraniana. O governo de Teerã considera esse processo parte de sua soberania científica e energética, enquanto os EUA e aliados enxergam a atividade como um risco à segurança global, especialmente diante da possibilidade de uso militar.
Desde que Washington se retirou unilateralmente do Acordo Nuclear de 2015 (JCPOA), no governo Trump, o Irã retomou o aumento gradual de seus níveis de enriquecimento, intensificando a tensão com o Ocidente. Sanções econômicas pesadas e ameaças militares passaram a compor o novo cenário de hostilidade diplomática.
As negociações previstas para sábado (19), em Omã, são vistas como uma última tentativa de retomada do diálogo antes que a situação evolua para uma escalada mais grave. O próprio presidente Donald Trump já indicou que considera todas as opções sobre a mesa, incluindo ações militares.
Enriquecimento: direito ou ameaça?
Do ponto de vista técnico, o enriquecimento de urânio permite ao país produzir combustível nuclear para usinas e uso médico. No entanto, acima de determinados níveis, o material pode ser usado na fabricação de armas nucleares. Essa dualidade é o cerne da disputa entre Teerã e as potências ocidentais.
Teerã insiste que seu programa é pacífico e monitorado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), embora tenha restringido a cooperação com a entidade em diversas ocasiões. Já os Estados Unidos exigem transparência total e o fim completo do enriquecimento como garantia de que o Irã não buscará armamentos.
O impasse e os possíveis desfechos
Especialistas internacionais apontam que qualquer avanço significativo nas negociações exigirá concessões mútuas. Para o Irã, renunciar ao enriquecimento equivaleria a abrir mão de sua soberania tecnológica. Para os EUA, permitir a continuidade do programa sem restrições seria aceitar um risco estratégico.
Analistas acreditam que a reunião em Omã poderá resultar em pequenos avanços técnicos, mas dificilmente trará um acordo definitivo, especialmente diante da postura firme adotada por ambos os lados. O cenário mais provável, segundo fontes diplomáticas, é a manutenção do impasse e o aumento da pressão internacional por mediação.
Se não houver progresso, cresce a possibilidade de novas sanções e até de ações militares, o que acentuaria a instabilidade no Oriente Médio e teria reflexos diretos nos mercados globais de energia e segurança.