Um movimento coordenado de Pequim a Moscou
Menos de 72 horas depois de participarem do Dia da Vitória em Moscou, Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping divulgaram, em Pequim (13.mai.2025), a Declaração Conjunta Brasil–China sobre a Crise na Ucrânia. O texto acolhe o convite do presidente russo Vladimir Putin — feito em 10 de maio — para abrir negociações diretas com Kiev e convoca o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky a responder “no menor prazo possível”.
“Superar a insensatez dos conflitos armados é pré-condição para o desenvolvimento”, sublinhou Lula, reiterando que o documento sino-brasileiro de maio de 2024 permanece como base para “paz duradoura e justa”.
Os 5 pilares da declaração
Nº | Conteúdo | Significado prático |
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1 | Acolher proposta russa de diálogo direto | Legitima iniciativa de Putin e a coloca sob tutela multilateral |
2 | Reconhecer sinal positivo de Zelensky | Pressiona Kiev a formalizar condições de mesa |
3 | Exigir solução “duradoura e vinculante” | Exclui cessar-fogo temporário; mira acordo jurídico |
4 | Relembrar criação do “Grupo de Amigos da Paz” (na ONU, set. 2024) | Reforça protagonismo do Sul Global (Brasil, China, Índia, Indonésia, África do Sul, Turquia) |
5 | Oferecer mediação contínua | Brasil e China mantêm-se “à disposição” para facilitar parlamento Russo ucraniano |
Por que Brasil e China convergem
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Estabilidade de preços Energia, fertilizantes e grãos dispararam 18 % desde 2022; trégua reduziria volatilidade que afeta seus mercados internos.
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Capital diplomático Ambos querem mostrar que o Sul Global não é mero espectador, mas ator capaz de desenhar cessar-fogo.
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Reforma da governança global Texto menciona que a ordem internacional “demanda reformas profundas” — eco do pleito por assentos permanentes para os dois BRICS no Conselho de Segurança.
Cenário das reações
Parte | Primeira resposta | Obstáculo imediato |
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Rússia | Endossa “iniciativa construtiva” | Garantir que sanções ocidentais entrem na pauta |
Ucrânia | Agradece “esforço”, mas exige retirada russa | Recusa congelar fronteiras atuais |
União Europeia | “Toda paz precisa respeitar soberania ucraniana” | Medo de acordo que ignore plano de 10 pontos de Zelensky |
Estados Unidos | Avaliam “com cautela” e aguardam detalhes | Desconfiam da neutralidade chinesa |
Roteiro proposto (três etapas)
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Cessar-fogo humanitário limitado Monitorado pela ONU nas regiões de Zaporizhzhia e Donetsk; corredor para grãos e energia.
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Conferência de Viena Participação do Grupo de Amigos da Paz, UE, EUA e ONU; definição de garantias de segurança mútua.
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Tratado de paz Neutralidade militar da Ucrânia, retirada escalonada de tropas, plebiscito em áreas disputadas sob supervisão internacional, fundo de reconstrução “verde”.
Diplomatas brasileiros projetam que a etapa 1 poderia começar “antes do outono europeu” se Kiev aceitar sentar-se sem pré-condições territoriais.
O que o Brasil ganha
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Prestígio – Reforça narrativa de Lula como articulador global e provável candidato ao Nobel da Paz.
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Economia – Menor risco geopolítico pode aliviar custo de fertilizantes (hoje 25 % importados da Rússia) e energia.
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Alinhamento flexível – Mantém parceria estratégica com EUA em clima e com China em comércio, sem romper com Moscou.
Riscos e ceticismos
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Imagem de “pró Moscou” – Caso o cessar-fogo congele territórios ocupados, Brasil pode ser visto como conivente.
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Unidade do Ocidente – EUA e UE podem ignorar conferência patrocinada por Pequim e Brasília se a acharem desequilibrada.
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Execução – Monitoramento da ONU exige mandato do Conselho de Segurança, onde veto russo ou ocidental pode travar.