Em meio à fumaça ainda densa deixada pela mais recente e caótica rodada de imposição de tarifas comerciais pelo governo de Donald Trump, diplomatas e técnicos brasileiros e americanos sentaram-se à mesa em Washington nesta quinta-feira (10 de abril de 2025). Foi o primeiro encontro bilateral focado em comércio desde que Trump anunciou sua controversa estratégia de “pausa” tarifária para alguns países, enquanto elevava drasticamente as taxas sobre a China. Fontes envolvidas nas negociações, ouvidas pela CNN Brasil, confirmam que o canal de diálogo técnico está “consolidado”, mas o sentimento predominante é de que uma resolução imediata para as questões que afetam o Brasil é “improvável”, principalmente devido à constante imprevisibilidade do presidente americano. A reunião comercial Brasil-EUA sobre tarifas segue, portanto, um roteiro de persistência pragmática em um cenário de alta instabilidade.
A Normalidade Burocrática em Tempos Anormais
É crucial notar que a reunião de ontem não foi um evento extraordinário convocado às pressas, mas sim parte da rotina de um grupo de trabalho bilateral focado em tarifas comerciais, que já se reunia semanalmente antes da última escalada de tensões. Essa continuidade do diálogo em nível técnico (com participação virtual de representantes do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – MDIC) contrasta fortemente com a turbulência e as reviravoltas políticas emanadas da Casa Branca.
Essa dualidade – a persistência da burocracia diplomática e técnica enquanto a política de cúpula segue errática – é um traço marcante das relações comerciais na era Trump. Manter o canal aberto é visto como essencial, mesmo que os resultados concretos demorem a aparecer.
Diagnóstico das Fontes: Canal Aberto, Solução Distante
A avaliação predominante entre os envolvidos nas negociações, segundo as fontes ouvidas, é agridoce. Por um lado, celebra-se que o diálogo técnico não foi interrompido pela crise recente; o canal está “consolidado”. Por outro lado, há um forte pessimismo quanto à possibilidade de avanços rápidos e significativos para o Brasil.
A razão apontada é clara: a imprevisibilidade de Donald Trump. Suas mudanças frequentes de posição, anúncios impulsivos (muitas vezes via redes sociais) e a aparente disposição em reverter acordos ou entendimentos anteriores criam um ambiente onde é extremamente difícil para os negociadores terem segurança sobre a validade e a durabilidade de qualquer concessão obtida. Uma solução negociada hoje pode ser desfeita por uma canetada (ou um tweet) amanhã.
A Estratégia Brasileira: Apaziguamento e Foco no Possível
Diante desse cenário desafiador, a estratégia brasileira nas negociações parece focar no pragmatismo e na redução de danos:
- Posicionamento Não-Ameaçador: O principal esforço dos negociadores brasileiros é demonstrar que o Brasil não representa um risco ou ameaça aos interesses econômicos dos EUA. Um argumento chave utilizado é o superávit comercial que os Estados Unidos possuem na relação bilateral com o Brasil – uma tentativa de contrapor a retórica de Trump, frequentemente focada em déficits comerciais americanos como justificativa para tarifas.
- Foco no Aço e Alumínio: Em vez de confrontar diretamente as tarifas recíprocas mais recentes (onde o Brasil foi taxado em 10% e não se beneficiou da “pausa”), a prioridade brasileira tem sido buscar a reversão das tarifas de 25% sobre aço e alumínio, impostas ainda no primeiro mandato de Trump sob a justificativa de segurança nacional (Seção 232). Essa batalha é considerada mais “viável” por já ter sido extensamente debatida e por existirem alternativas como a negociação de cotas de isenção, um mecanismo já utilizado anteriormente.
Essa concentração no tema do aço/alumínio sugere uma avaliação realista de que reverter as tarifas mais recentes, inseridas no contexto da volátil guerra comercial com a China e outros países, seria muito mais difícil no momento atual.
A Orquestra Brasileira: Coordenação Interna e a Palavra Final de Lula
A condução dessas negociações complexas envolve uma coordenação interna no governo brasileiro. O vice-presidente e ministro do MDIC, Geraldo Alckmin, e o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, são os “comandantes” diretos do diálogo. Contudo, consultas frequentes são feitas aos ministros Carlos Fávaro (Agricultura) e Fernando Haddad (Fazenda), dada a transversalidade dos temas comerciais.
Fundamentalmente, nenhuma decisão final é tomada sem o aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Fontes indicam que, apesar de Lula adotar publicamente uma postura mais crítica e assertiva em relação a Trump e suas políticas, as posições levadas à mesa de negociação pelos diplomatas e técnicos são previamente alinhadas com o presidente, buscando um equilíbrio entre a firmeza política e o pragmatismo necessário para manter o diálogo aberto.
Diálogo Mantido, Expectativas Contidas
A reunião comercial desta semana entre Brasil e Estados Unidos demonstra que, apesar da tempestade tarifária e da imprevisibilidade política vinda de Washington, os canais técnicos de diálogo permanecem abertos. No entanto, as expectativas por resultados imediatos são baixas. A estratégia brasileira de focar na questão do aço e alumínio e de se posicionar como um parceiro não ameaçador reflete uma adaptação pragmática a um ambiente internacional extremamente volátil.
A consolidação do canal de diálogo é, em si, uma pequena vitória, mas a “solução” para as barreiras comerciais que afetam o Brasil parece depender menos da tecnicalidade das negociações semanais e muito mais de uma mudança (hoje imprevisível) na postura da Casa Branca ou da eventual resolução dos conflitos maiores que Trump trava no cenário global, especialmente com a China. Por ora, o Brasil mantém a conversa aberta, mas sem criar ilusões sobre avanços rápidos.