O mercado financeiro brasileiro viveu uma verdadeira “sexta-feira negra” neste dia 4 de abril de 2025. Após uma breve demonstração de resiliência na véspera, a bolsa de valores brasileira (B3) sucumbiu à onda de aversão ao risco global desencadeada pela escalada da guerra comercial entre Estados Unidos e China. O estopim foi a dura retaliação de Pequim às tarifas impostas anteriormente pelo governo de Donald Trump. Como resultado, o Ibovespa despencou com a resposta da China às tarifas dos EUA, e o dólar registrou uma alta expressiva frente ao real.
A Retaliação Chinesa: O Gatilho da Turbulência
Se na quinta-feira o mercado brasileiro ainda tentava digerir o impacto inicial das novas tarifas americanas, a resposta chinesa nesta sexta-feira (4) não deixou dúvidas sobre a gravidade da situação. Pequim anunciou a imposição de tarifas de 34% sobre todos os produtos importados dos Estados Unidos, uma medida retaliatória direta que entrará em vigor já no próximo dia 10 de abril.
Essa ação transformou o que eram tensões comerciais em um confronto aberto entre as duas maiores potências econômicas globais, acendendo um forte sinal de alerta nos mercados mundiais. A percepção é que a “briga de cachorro grande”, como se diz no jargão popular, pode ter consequências imprevisíveis e severas para o crescimento global.
Impacto Devastador no Mercado Brasileiro
O Brasil, como economia emergente, sentiu o golpe de forma aguda:
- Ibovespa: O principal índice da B3 fechou o dia em forte queda de -2,96%, caindo para 127.256,00 pontos. Isso representou uma perda expressiva de 3.884,65 pontos em um único pregão.
- Desempenho Semanal: A semana terminou com o Ibovespa acumulando perdas de -3,52%, marcando a pior performance semanal desde meados de dezembro de 2022.
- Dólar: A moeda norte-americana disparou +3,68% contra o real, encerrando o dia cotada a R$ 5,8350. Essa forte desvalorização reflete a fuga de capitais de mercados considerados mais arriscados em momentos de alta incerteza global.
- Setores Afetados: Pelo segundo dia consecutivo, as ações de empresas ligadas ao setor de petróleo estiveram entre as maiores quedas do Ibovespa, refletindo temores sobre o impacto da desaceleração global na demanda por commodities.
Mercados Globais em Queda Livre
O tsunami vendedor não se restringiu ao Brasil. Nos Estados Unidos, o epicentro da crise tarifária, as bolsas registraram perdas ainda mais substanciais:
- Dow Jones: -5,50% no dia / -7,86% na semana.
- S&P 500: -5,98% no dia / -9,00% na semana.
- Nasdaq: -5,82% no dia / -10,02% na semana.
Significativamente, o índice Nasdaq, que agrupa as gigantes de tecnologia, entrou oficialmente em território de bear market (mercado do urso), caracterizado por quedas prolongadas e superiores a 20% desde o pico recente, sinalizando pessimismo acentuado dos investidores.
Preocupações do Federal Reserve Ampliam Tensão
Adicionando mais combustível à fogueira, declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Jerome Powell, repercutiram negativamente. Powell manifestou grande preocupação com o impacto das tarifas na economia.
“Agora está ficando claro que os aumentos de tarifas serão significativamente maiores do que o previsto… É provável que o mesmo ocorra com os efeitos econômicos, que vão incluir uma inflação maior e uma desaceleração do crescimento”, afirmou Powell em declaração escrita, classificando o cenário como um dificultador para a condução da política monetária.
Essa sinalização do Fed aumentou os temores de um cenário de estagflação (inflação alta com baixo crescimento) nos EUA, complicando ainda mais as perspectivas globais.
Dado Positivo Local Ofuscado pela Crise Externa
Em meio ao turbilhão externo, um dado positivo da economia brasileira passou quase despercebido. A balança comercial registrou um superávit robusto de US$ 8,15 bilhões em março, um crescimento de 13,8% em relação a março de 2024. Embora seja um bom resultado, ele foi completamente ofuscado pelo pânico generalizado nos mercados globais causado pela intensificação da disputa Ibovespa China EUA tarifas.
O cenário agora é de extrema cautela, com investidores aguardando os próximos capítulos desta guerra comercial e seus potenciais desdobramentos sobre a economia global e brasileira.