Setor privado apresenta avanço real nos salários, mas setor público segue defasado. Especialista aponta que controle cambial e ajustes duros explicam reações distintas no país.
Salários no setor privado superam níveis pré-Milei
A Argentina, após anos mergulhada em uma profunda crise econômica, começa a demonstrar os primeiros sinais concretos de recuperação. Um dos principais indicadores positivos vem do setor privado: os salários reais, tanto de trabalhadores formais quanto informais, já estão acima dos patamares registrados antes da posse de Javier Milei.
A análise é do economista e pesquisador do FGV IBRE, Samuel Pessôa. Segundo ele, essa retomada, embora ainda tímida, é significativa diante do cenário crítico deixado pelos governos anteriores.
“Os salários do setor privado, tanto do trabalhador formal quanto do informal, já estão em níveis reais superiores aos observados antes do Milei assumir”, afirmou o especialista.
Ajustes duros e resposta rápida
Milei assumiu a presidência com um discurso liberal e implementou uma série de medidas radicais logo nos primeiros meses de governo. Entre elas, cortes profundos no gasto público, congelamento cambial e a tentativa de reduzir o tamanho do Estado.
Essas ações impactaram diretamente o bolso dos argentinos. Inicialmente, os salários despencaram. No entanto, o setor privado respondeu mais rapidamente do que o esperado, superando a base deprimida causada por anos de inflação descontrolada e políticas fiscais inconsistentes.
Setor público ainda sente os efeitos da crise
Enquanto o setor privado avança, os servidores públicos continuam enfrentando perdas. Para Samuel Pessôa, esse cenário se explica pelo projeto de Milei de reduzir o papel do Estado na economia argentina.
A política de contenção salarial e corte de benefícios para o funcionalismo ainda está longe de permitir uma recuperação da renda dos servidores. Isso gera uma desigualdade perceptível entre os setores, acirrando tensões sociais e políticas.
Turismo de compras e o papel do câmbio
Outro ponto destacado por Pessôa é o impacto da política cambial na economia real. O governo de Milei manteve um rígido controle sobre a saída de capital e sobre o câmbio oficial, o que gerou um fenômeno curioso: argentinos estão vindo ao Brasil — especialmente para cidades como Florianópolis — para fazer compras.
“Ele segurou o câmbio e está com a conta de capital fechada. Existe uma artificialidade”, explicou o economista.
Esse controle fez com que os preços em território brasileiro ficassem mais atrativos do que em boa parte do comércio argentino, alimentando um movimento de “turismo de consumo” fora do país.
Desafios ainda existem, mas perspectiva melhora
Apesar dos avanços pontuais, a Argentina ainda enfrenta grandes desafios. A inflação segue alta, o crédito continua restrito e o ambiente de negócios ainda inspira cautela. No entanto, os primeiros indicadores positivos — como a recuperação dos salários no setor privado — indicam que o país pode estar iniciando um novo ciclo.
Com o tempo, caso o governo consiga estabilizar os preços, atrair investimentos e ampliar a competitividade, a Argentina poderá recuperar sua credibilidade internacional e voltar a crescer de forma sustentada.
