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Diplomacia Transacional: China Oferece Abertura à UE, Mas Pede Fim de Barreiras a Tecnologia, EVs e 5G em Troca de ‘Parceria’

Embaixador Yao Jing detalha proposta de 'toma lá, dá cá' contra 'abuso' dos EUA, condicionando acesso a mercado chinês e alívio em disputas setoriais a concessões estratégicas europeias em áreas sensíveis.

por Ifatos
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Em um movimento diplomático que reflete a crescente polarização global e a intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos, a China está propondo abertamente uma relação mais transacional com a União Europeia (UE). Falando à agência Reuters, o embaixador chinês na Espanha, Yao Jing, detalhou a visão de Pequim: uma “parceria” focada em interesses mútuos contra o que descreveu como “abuso econômico unilateral” dos EUA, mas que viria condicionada a concessões significativas por parte de Bruxelas em áreas tecnológicas e industriais estratégicas. A mensagem é clara: a China está disposta a abrir portas, mas espera que a Europa também remova barreiras cruciais, num explícito jogo de “toma lá, dá cá”. Essa diplomacia transacional entre China e UE surge como resposta direta à pressão americana e busca redefinir os termos da relação bilateral.

O Diagnóstico Chinês: Parceria Inviável com Rótulos de ‘Rival’

A base da argumentação de Yao Jing é uma crítica à estratégia adotada pela UE em 2019, que classifica a China simultaneamente como “parceiro para cooperação, concorrente econômico e rival sistêmico”. Para o embaixador, essa definição tripartite “faz pouco sentido”, especialmente quando comparada à postura protecionista e “isolacionista” de Donald Trump. Ele argumenta que China e UE compartilham a defesa de mercados abertos e regras comerciais (uma alfinetada direta nos EUA) e, portanto, deveriam “focar na parceria”.

“A China nunca será uma ameaça ou qualquer tipo de inimigo para a UE”, assegurou Yao, elogiando o multilateralismo europeu em contraste com as ações americanas, que, segundo ele, “de fato cortam a garganta de todos” com tarifas unilaterais.

Essa narrativa busca criar um senso de alinhamento de interesses entre China e UE contra os EUA, estabelecendo o palco para a negociação transacional.

As Ofertas na Mesa (‘Dá Cá’): Abertura Gradual e Gestos Calculados

Para sustentar a oferta de parceria, Yao Jing destacou os esforços chineses em abrir sua economia e sinalizou disposição para mais:

  • Abertura Setorial Ampla (Promessa): Reiterou que Pequim está abrindo setores como telecomunicações, bancos e manufatura para investimento estrangeiro e que essa “porta aberta nunca será fechada”, embora admita que o enorme déficit comercial da UE com a China (~US$ 345 bilhões) levará tempo para ser corrigido devido a questões estruturais.
  • Gesto Concreto (Espanha): Apresentou o recente acordo que permite a importação de estômago de porco espanhol pela China – um produto de nicho, mas de consumo popular local – como um exemplo tangível e recente dessa abertura direcionada a um membro da UE (“acabamos de fazer com a Espanha”).
  • Sinalização em Disputa (Carne Suína UE): Analistas veem o acordo com a Espanha como um possível sinal de flexibilidade na investigação antidumping chinesa sobre a carne suína da UE. Essa investigação foi aberta por Pequim como retaliação direta às tarifas que a UE aplicou (ou ameaçou aplicar) sobre veículos elétricos (VEs) chineses. Yao Jing, embora afirmando que a investigação segue, mencionou “disposição para resolver as diferenças por meio de negociações”, alimentando a leitura de que o caso do porco pode ser uma moeda de troca.

As Demandas Chinesas (‘Toma Lá’): O Alto Preço da Parceria

Em contrapartida a essa abertura (prometida ou pontual), as demandas chinesas sobre a UE são significativas e tocam em pontos altamente sensíveis para a soberania econômica e tecnológica europeia:

  1. Fim dos Controles de Exportação de Tecnologia: A China quer que a Europa abandone restrições à venda de tecnologias avançadas, incluindo semicondutores, para empresas chinesas.
  2. Remoção de Tarifas sobre VEs: Exige o fim das barreiras tarifárias europeias sobre veículos elétricos chineses, que Pequim vê como protecionismo injustificado contra sua crescente indústria automotiva.
  3. Acesso Irrestrito ao 5G: Pede o fim das limitações impostas a gigantes como Huawei e ZTE para participarem da construção e operação das redes 5G na Europa, uma questão com fortes implicações de segurança nacional para muitos países europeus.

Essas demandas representam o “preço” que a China parece estipular para uma relação mais harmoniosa e alinhada contra as pressões americanas.

Calculando a Troca: A UE Avalia os Termos

A proposta chinesa coloca a União Europeia diante de um cálculo complexo. A oferta de maior acesso ao vasto mercado chinês é tentadora para muitos setores europeus, e a sinalização de flexibilidade em disputas como a da carne suína é bem-vinda.

No entanto, as demandas chinesas são de outra ordem de magnitude. Ceder em controles de exportação de semicondutores, abrir mão de tarifas sobre VEs (um setor industrial chave para a Europa) e permitir acesso irrestrito de Huawei/ZTE ao 5G envolvem riscos estratégicos, econômicos e de segurança que Bruxelas e as capitais europeias dificilmente ignorarão. A barganha proposta por Pequim parece, à primeira vista, exigir muito mais em áreas sensíveis do que oferece em acesso a mercado (parte do qual já vinha sendo prometido anteriormente).

O Pragmatismo Define a Relação China-UE na Era da Rivalidade

A ofensiva diplomática da China, explicitando uma abordagem transacional com a União Europeia, é um reflexo direto da intensificação da rivalidade com os Estados Unidos. Pequim busca explorar as tensões transatlânticas e o desconforto europeu com o protecionismo de Trump para obter ganhos estratégicos. A oferta é clara: uma parceria pragmática contra o “abuso” americano, em troca de concessões europeias em tecnologia, indústria e infraestrutura digital.

Resta à União Europeia decidir como responder a essa proposta de “toma lá, dá cá”. Manter a complexa estratégia de “parceiro-competidor-rival”, ceder em alguns pontos para obter vantagens comerciais, ou resistir às demandas chinesas em nome da segurança e da soberania tecnológica? A resposta definirá não apenas o futuro das relações sino-europeias, mas também o equilíbrio de poder em um cenário global cada vez mais moldado pela disputa entre Washington e Pequim. A diplomacia de interesses calculados parece ter chegado para ficar.

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