Um truque antigo com impacto bilionário
Segundo o Serviço Aduaneiro da Coreia, cerca de US$ 20,81 milhões em produtos exportados para os EUA entre janeiro e março deste ano foram identificados com origem falsa. Eles vinham da China, mas foram rotulados como se tivessem sido produzidos na Coreia do Sul. Só neste primeiro trimestre, 97% das remessas fraudulentas tinham como destino o mercado norte-americano.
A fraude — embora não seja nova — está crescendo com velocidade preocupante, e as autoridades coreanas dizem que isso pode ser apenas a ponta do iceberg.
Como o esquema funciona
As autoridades identificaram duas estratégias principais:
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Reetiquetagem direta: Produtos prontos são importados da China e recebem etiquetas de “Made in Korea” antes de serem reexportados para os EUA.
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Montagem simbólica: Peças são trazidas desmontadas da China, montadas superficialmente na Coreia do Sul e depois declaradas como produção local.
Um dos casos mais graves envolveu US$ 14 milhões em câmeras de vigilância, trazidas da China em partes e montadas na Coreia. O objetivo? Contornar restrições americanas que proíbem a importação de certos dispositivos chineses.
Também foram detectadas tentativas de burlar tarifas em materiais usados em baterias elétricas, com US$ 2,3 milhões em remessas fraudulentas apenas em janeiro.
Trump eleva as tarifas, e o comércio se adapta
Desde que reassumiu a presidência em janeiro, Donald Trump voltou a apertar o cerco comercial. As novas tarifas sobre produtos chineses chegam a 145%, elevando significativamente o custo de entrada dessas mercadorias nos EUA. A Coreia do Sul, por ser aliada estratégica e ter um acordo de livre comércio com os americanos, se tornou alvo de rotas alternativas de exportação.
O próprio país asiático chegou a ser incluído no pacote tarifário de Trump com um imposto de 25% — suspenso provisoriamente por três meses.
Coreia reage com nova força-tarefa
A resposta veio rápida. O governo sul-coreano anunciou a criação de uma força-tarefa nacional para impedir a manipulação da origem de produtos. O grupo deve atuar com foco em investigações, rastreamento alfandegário, inteligência comercial e articulação com autoridades americanas.
“Esse tipo de prática coloca nossa credibilidade internacional em risco. Precisamos proteger a integridade da etiqueta ‘Made in Korea’”, afirmou um porta-voz da aduana.
As empresas envolvidas nas irregularidades poderão sofrer sanções administrativas, multas e até restrições de operação no exterior.
Muito além de etiquetas: a geopolítica da produção
A disputa entre EUA e China não se dá apenas nas cúpulas diplomáticas ou nas taxas aduaneiras. Ela se manifesta nas fábricas, nos containers, nas fronteiras invisíveis do comércio moderno. E a Coreia do Sul, embora parceira dos dois lados, vê-se no meio dessa tensão.
“Estamos diante de um novo tipo de guerra comercial. Mais silenciosa, mais estratégica e muito mais difícil de rastrear”, avaliou uma especialista em comércio internacional da Universidade de Yonsei.
E o que vem agora?
Nas próximas semanas, espera-se que os EUA aumentem a fiscalização sobre produtos vindos da Coreia e de outros países asiáticos. A Coreia, por sua vez, deve reforçar controles internos e cooperar com Washington para garantir transparência nas exportações e rastreabilidade de origem.
Um relatório detalhado com medidas adicionais está previsto para junho. Ele poderá incluir novas regras de etiquetagem, auditorias preventivas e canais diretos de denúncia.