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Banco Central alerta: política comercial dos EUA amplia riscos globais e exige cautela dos emergentes

Relatório aponta que protecionismo americano, juros elevados e instabilidade fiscal desafiam a resiliência dos sistemas financeiros de países como o Brasil

por Ifatos
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A política econômica dos Estados Unidos voltou a ser fonte de preocupação para os países em desenvolvimento. Em seu mais recente Relatório de Estabilidade Financeira (REF), publicado em 29 de abril de 2025, o Banco Central do Brasil (BCB) afirma que a postura comercial adotada por Washington — marcada por tarifas adicionais, subsídios domésticos e volatilidade na condução de políticas monetárias — vem gerando aumento das incertezas globais, prejudicando expectativas e a confiança dos mercados, e exigindo cautela redobrada por parte das economias emergentes.

Segundo o documento, o ambiente internacional segue pressionado por três vetores principais:

  • A continuidade de medidas protecionistas por parte dos EUA;

  • A manutenção de juros elevados nos países centrais;

  • A desaceleração desigual da inflação global, com riscos de estagflação.

“Esse contexto tem gerado ainda mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração e da desinflação e, consequentemente, sobre o crescimento nos demais países”, aponta o relatório.

O que está em jogo: EUA mais fechados e mercados mais nervosos

Desde 2018, com o início da chamada guerra comercial entre Estados Unidos e China, o cenário de comércio internacional tem mudado. O que antes era um ambiente de abertura gradual e integração global, agora passa a refletir um movimento crescente de “relocalização produtiva” (reshoring), tarifas unilaterais e restrições a insumos estratégicos, como semicondutores e metais raros.

Mesmo sob a administração Biden, os EUA mantiveram e ampliaram diversas barreiras implementadas no governo Trump. A “Lei de Redução da Inflação” (Inflation Reduction Act), por exemplo, direcionou subsídios industriais internos, afetando exportadores de componentes tecnológicos e veículos elétricos de países em desenvolvimento.

Essas medidas, associadas ao aumento do protecionismo agrícola e à intensificação do escrutínio sobre investimentos estrangeiros, pressionam o comércio global, principalmente para países exportadores como o Brasil. A consequência é menor previsibilidade, maior aversão ao risco, e desvalorização cambial nas economias mais vulneráveis.

Impacto direto: mercados mais voláteis e câmbio sob pressão

O Banco Central reconhece que o Brasil, apesar da robustez de seu sistema bancário, não está imune a esses choques.
No relatório, a autoridade monetária afirma que o Sistema Financeiro Nacional (SFN) tem baixa exposição ao risco cambial e pouca dependência de captação externa, o que reduz sua vulnerabilidade imediata.
No entanto, o fluxo de capitais estrangeiros para o Brasil pode ser afetado negativamente, elevando a volatilidade do câmbio e pressionando os preços dos ativos locais, especialmente em ciclos de maior valorização do dólar.

“O BC segue preparado para atuar de forma a minimizar eventual contaminação desproporcional sobre os preços dos ativos locais”, diz o documento.

O relatório ressalta que, em um ambiente externo mais hostil, o Brasil precisará manter coerência fiscal e previsibilidade macroeconômica para preservar a atratividade de seu mercado financeiro — algo que, atualmente, enfrenta obstáculos internos.

Riscos fiscais e inadimplência: desafios domésticos ganham peso

Apesar da robustez bancária, o Banco Central alerta para o crescimento dos riscos fiscais internos. O relatório aponta que a trajetória da dívida pública voltou a gerar preocupações relevantes, com impacto sobre o custo do crédito e a percepção de sustentabilidade do arcabouço fiscal aprovado em 2023.

Segundo o documento:

  • A projeção da dívida bruta ultrapassa 77% do PIB até o fim de 2025;

  • ceticismo de parte do mercado quanto à obtenção das metas de superávit;

  • O endividamento das famílias e das empresas permanece elevado, e pode agravar inadimplência em caso de desaceleração.

A autoridade monetária identificou uma aceleração no crédito para pessoas físicas, especialmente no financiamento de veículos e crédito não consignado, o que representa um ponto de atenção. Para empresas, o crédito cresceu para todos os portes, mas com custos elevados devido à persistência da taxa Selic acima de 10% ao ano.

“O atual ciclo de juros terá forte impacto sobre empresas não financeiras, porém mais moderado que durante a recessão de 2015–2016”, afirma o BC.

Estabilidade bancária ainda sólida

O relatório também apresenta dados positivos. O sistema bancário brasileiro segue capitalizado, líquido e com provisões adequadas às perdas esperadas.
Os testes de estresse de liquidez e capital realizados pelo BC demonstraram resiliência ampla, mesmo em cenários adversos, como choques de inflação externa ou reversão súbita de fluxos cambiais.

Isso significa que não há risco sistêmico relevante à estabilidade financeira no curto prazo, embora a manutenção da confiança exija vigilância permanente e coordenação entre as políticas monetária, fiscal e cambial.

Risco sistêmico global: emergentes no epicentro

O alerta do Banco Central brasileiro ecoa preocupações já manifestadas por instituições multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial, que apontaram em relatórios recentes o risco de uma “fragmentação geoeconômica” — termo usado para descrever a divisão do comércio global em blocos, com menor integração entre países, tarifas mais altas e restrições cruzadas a investimentos.

Essa fragmentação pode enfraquecer as cadeias globais, reduzir ganhos de eficiência, aumentar a inflação estrutural e dificultar o crescimento de países dependentes de exportações — como o Brasil.

Além disso, o aumento dos gastos militares globais (motivados por conflitos como Ucrânia, Gaza e tensões no Mar do Sul da China) e as eleições nos EUA em 2024 podem adicionar novas camadas de incerteza, com possíveis mudanças radicais de postura comercial e fiscal na maior economia do planeta.

Estabilidade relativa exige respostas assertivas

O Brasil entra no segundo trimestre de 2025 com estabilidade financeira relativa, mas enfrenta vulnerabilidades crescentes em um ambiente global mais incerto e fragmentado.
O sistema bancário é sólido, mas a condução da política fiscal, a qualidade do gasto público e a capacidade de gerar confiança em meio a uma política comercial global cada vez mais imprevisível serão decisivas para preservar essa estabilidade.

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