O mês de março registrou uma inflação de 0,56%, segundo o IBGE, em novo dado divulgado nesta sexta-feira (11). Embora tecnicamente represente uma desaceleração frente ao pico de fevereiro (1,31%), o índice ainda preocupa: trata-se do maior IPCA para o mês desde 2003, e reforça as incertezas que pairam sobre o controle de preços no país.
A alta foi puxada quase inteiramente pelo setor de alimentos, especialmente itens como tomate, ovos e café, cujos aumentos impactaram diretamente o bolso da população e representaram 45% de toda a inflação do mês.
🍅 O tomate dispara, o ovo vira luxo e o café segue imbatível
Entre os produtos que mais subiram, o tomate lidera com uma explosiva alta de 22,55% — reflexo direto da antecipação da colheita em fevereiro, impulsionada pelo calor fora do padrão, o que reduziu a oferta em março.
Já o ovo de galinha, com aumento de 13,13%, sofre influência dupla: a valorização do milho, base da ração das aves, e o aumento sazonal da demanda durante a Quaresma. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) aponta ainda que a exportação de ovos cresceu 57,5%, puxada pela crise de gripe aviária nos Estados Unidos, o que agravou a escassez no mercado interno.
O café moído, por sua vez, já acumula 77,78% de alta nos últimos 12 meses — um reflexo da quebra de safra no Vietnã e de perdas causadas por eventos climáticos no Brasil.
📉 Desaceleração da energia alivia, mas não compensa
Se por um lado o grupo Habitação teve uma desaceleração importante — com alta de apenas 0,24% em março, frente aos 4,44% de fevereiro — isso se deve ao fim do bônus de Itaipu, que havia impactado fortemente o mês anterior.
A energia elétrica residencial passou de uma alta de 16,80% para apenas 0,12%. No entanto, a redução não foi suficiente para conter o impacto geral da inflação no custo de vida.
O grupo Transportes também desacelerou, indo de 0,61% para 0,46%, ajudando a conter um avanço ainda maior do IPCA.
🧾 Panorama geral da inflação:
| Indicador | Valor |
|---|---|
| IPCA Março 2025 | 0,56% |
| Acumulado no ano | 2,04% |
| Acumulado em 12 meses | 5,48% |
| Inflação de Alimentos | 1,17% |
| Tomate | +22,55% |
| Ovos | +13,13% |
| Café Moído | +8,14% |
| Inflação de Serviços (12 meses) | 5,88% |
| Índice de difusão (produtos afetados) | 61% |
💬 Governo acompanha com preocupação
A escalada nos alimentos chamou atenção do próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que manifestou preocupação pública sobre os efeitos da inflação na mesa do brasileiro. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também vem discutindo medidas para conter a pressão nos preços e garantir estabilidade no primeiro semestre.
No centro da tensão, está a preocupação com os alimentos essenciais e com o efeito da inflação na popularidade do governo e no poder de compra da população de baixa renda.
🏦 Política monetária e Trump no radar
O Banco Central elevou a Selic para 14,25% no mês passado, mas sinalizou que os próximos ajustes devem ser mais leves. Economistas como André Valério, do Banco Inter, avaliam que os dados de março não alteram o plano do Copom neste momento, mas reforçam a vigilância sobre a inflação dos serviços.
Outro fator que pode reaquecer os preços são os efeitos da política comercial do presidente dos EUA, Donald Trump, que tem adotado medidas protecionistas que impactam os mercados globais. Lula já afirmou que buscará negociar diretamente com Washington antes de cogitar retaliações comerciais.
🔍 Conclusão
Embora o IPCA de março tenha desacelerado em relação a fevereiro, a inflação continua se espalhando por itens essenciais — especialmente alimentos. O custo da cesta básica sobe, o café virou item de luxo em algumas regiões e os ovos, antes alternativa acessível, começam a pesar no bolso.
O cenário ainda não aponta para uma crise inflacionária generalizada, mas mostra um alerta crescente para o governo e para o Banco Central, que precisam equilibrar política monetária, consumo interno e pressões externas sem desestabilizar a economia.
