A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investigará o rombo de R$ 6,3 bilhões em descontos ilegais no INSS caminha para ser instalada porque 211 congressistas subscreveram o requerimento liderado por Coronel Fernanda (PL-MT) e Damares Alves (Republicanos-DF). Entre eles, nenhum pertence às sete legendas que formam o núcleo ideológico do governo: PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB, PV e Rede. O boicote conjunto entregou à oposição a narrativa de “blindagem” e gerou mal-estar entre partidos de centro com ministérios, que se dividiram.
Quem assinou (e quem não)
Bloco partidário | Bancada (dep + sen) | Assinaturas | % de apoio | Observação |
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Oposição declarada PL, Novo, Republicanos (ala conservadora) |
124 | 111 | 89 % | Mobilização quase total |
Centro com ministérios União, PP, PSD, MDB |
169 | 60 | 36 % | Fratura na coalizão |
Núcleo ideológico do governo PT, PDT, PSB, PSOL, PCdoB, PV, Rede |
127 | 0 | 0 % | Boicote unificado |
“Quem não deve, não teme. Por que tanto medo de transparente investigação?”, provocou Damares Alves, após publicar a lista completa de adesões.
Por que PT e aliados fecharam questão
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Proteção institucional – A CPI pode vasculhar convênios firmados desde 2015, incluindo governos petistas; a orientação foi evitar “arma para adversário”.
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Linha de defesa unificada – A líder Gleisi Hoffmann determinou voto em bloco para sustentar que Polícia Federal e CGU já apuram o caso, tornando CPMI redundante.
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Risco de exposição regional – Sindicatos suspeitos de fraude mantêm vínculos históricos com correntes da esquerda; escândalo estadual poderia respingar em diretórios locais.
Centro rachado: ministérios não garantem lealdade
Apesar de controlar oito pastas, União Brasil, PP, PSD e MDB entregaram 60 assinaturas – 36 % de suas bancadas. Vice-líderes desses partidos reclamam de:
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Falta de coordenação – Rui Costa (Casa Civil) travou repasses de emendas, criando atrito.
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Comunicação falha – O governo não apresentou cronograma convincente de ressarcimento aos idosos lesados.
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Espaço eleitoral – Deputados querem protagonizar pauta anticorrupção antes das municipais de 2026.
O roteiro de instalação
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Leitura do requerimento – Davi Alcolumbre (União-AP) promete colocar em pauta ainda em maio.
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Retirada de assinaturas? – O Planalto tenta convencer dois senadores do PSD a recuar; se isso ocorrer antes da leitura, a CPMI morre.
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Comando da comissão – O PL reivindica presidência; União ou MDB cobiçam relatoria.
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Calendário de trabalho – A oposição planeja oitivas de ex-presidentes do INSS, ex-ministro Carlos Lupi e dirigentes de entidades de fachada até setembro.
Impacto na agenda do governo
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Prioridades econômicas – Arcabouço do salário mínimo, reforma do seguro-desemprego e marco fiscal dos municípios podem ficar na gaveta enquanto a CPMI domina manchetes.
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Negociação de emendas – Centristas insatisfeitos podem reter votos em pautas de infraestrutura até o Planalto liberar recursos.
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Figura de Wolney Queiroz – Novo ministro da Previdência se torna peça-chave; oposição já protocolou pedido de convocação.
Contra-ataque do Planalto
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Pacote de transparência – Publicação semanal de ressarcimentos no Portal da Transparência.
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Projeto de lei – Criminalização de desconto associativo sem biometria facial e punição de servidor conivente.
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Ordem para pagar – Dataprev recebeu meta de processar 100 mil reembolsos/dia a partir de julho.
Efeitos eleitorais
Analistas veem a CPMI como divisor de águas:
Cenário | Consequência para Lula | Ganho para oposição |
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Governo retoma controle ressarce vítimas, nomeia relator moderado |
Diminui desgaste, divide narrativa | Perde pauta constante, mas faz marcação pontual |
Comissão dominada pelo PL exibe fraudes, convoca Lupi, mostra idoso chorando |
Imagem de incompetência e “velha política” | Amplia capital político para municipais de 2026 |