O que o novo relatório prevê?
O FMI cortou a previsão de crescimento global para 2025 de 3,3% para 2,8%. Para 2026, a expectativa agora é de 3%, abaixo da média histórica de 3,7% registrada entre 2000 e 2019. A estimativa para o crescimento do comércio mundial foi reduzida pela metade: de 3,2% para apenas 1,7%.
Esse freio brusco no ritmo econômico global é atribuído à “fragmentação acelerada” do comércio internacional e ao aumento dos custos logísticos e produtivos.
“O comércio continuará existindo, mas será menos eficiente, mais caro e mais incerto”, alerta o relatório.
Os números por país: impacto direto do tarifaço
🇺🇸 Estados Unidos
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Crescimento 2025: de 2,7% para 1,8%
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Crescimento 2026: de 2,1% para 1,7%
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Inflação prevista para 2025: 3%, acima da meta do Fed
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Chance de recessão: subiu de 25% para 37%
Apesar da desaceleração, o FMI não prevê recessão iminente, mas o tom é de alerta. A escalada protecionista pode forçar o Federal Reserve a manter os juros elevados por mais tempo.
🇨🇳 China
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Crescimento 2025: de 4,6% para 4,0%
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Crescimento 2026: de 4,5% para 4,0%
A China é um dos países mais atingidos, com queda de 1,3 ponto percentual atribuída diretamente às tarifas dos EUA. O governo chinês já começou a implementar medidas fiscais para conter o impacto, mas a desaceleração é inevitável, segundo o FMI.
🇲🇽 México
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Crescimento 2025: de 2,0% para -0,3%
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Recuperação prevista para 2026: 1,4%
É uma das quedas mais dramáticas entre os países em desenvolvimento. O México sofre diretamente por sua dependência das exportações para os EUA — seu maior parceiro comercial.
🇨🇦 Canadá
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Crescimento 2025: de 2,0% para 1,4%
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Crescimento 2026: 1,6%
🇪🇺 Zona do Euro
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Crescimento 2025: 0,8%
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Crescimento 2026: 1,2%
O impacto varia entre os países. A Alemanha entra em estagnação, com 0% de crescimento previsto para 2025. Já a Espanha surpreende positivamente, com projeção elevada para 2,5%, sustentada por consumo interno e aumento de salários.
O que está em jogo?
A leitura do FMI é clara: o mundo está diante de uma reconfiguração do comércio global e da lógica que sustentou a interdependência econômica das últimas décadas. A nova onda de tarifas, somada a incertezas sobre cadeias produtivas, eleva os custos, encarece produtos e desorganiza investimentos internacionais.
“As tarifas alimentam a volatilidade nos mercados, criam incerteza política e afastam decisões de longo prazo”, disse Gourinchas.
O relatório também destaca que a inflação cairá mais lentamente do que o esperado. Para 2025, a taxa global está prevista em 4,3%, com destaque para a alta nos EUA e em economias desenvolvidas — justamente onde o protecionismo avança.
Reformas estruturais ou estagnação prolongada
Apesar de reconhecer que o sistema monetário internacional ainda é resiliente, o FMI alerta que o crescimento mundial no médio prazo está estagnado, com projeção de 3,2% para os próximos cinco anos — um índice considerado fraco.
“Sem reformas estruturais significativas, esse ritmo de crescimento será o novo normal”, conclui o documento.
O que isso significa para o Brasil?
Embora o relatório não traga números específicos sobre o Brasil, os efeitos indiretos são relevantes:
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Menor crescimento global → menos exportações
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Inflação em alta nos EUA → juros altos por mais tempo no mundo todo
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Redução no comércio com China e EUA → impacto no agronegócio e na indústria brasileira
O governo brasileiro, que nos últimos meses intensificou relações com a Ásia e o BRICS, deve reforçar a diversificação de mercados e políticas de proteção interna, caso queira minimizar os impactos dessa nova era de incertezas globais.