Investigação revela trama de corrupção, vingança e conexões com forças de segurança
Um crime ousado no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em 8 de novembro de 2024, continua a revelar camadas de uma trama intricada envolvendo corrupção, vingança e o poder do Primeiro Comando da Capital (PCC). O assassinato de Antônio Vinicius Gritzbach, um delator que expôs esquemas da facção, e de Celso Araújo Sampaio de Novais, um motorista de aplicativo atingido no ataque, ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira, 17 de março de 2025. Um relatório final da Polícia Civil de São Paulo, obtido pela CNN, aponta Diego dos Santos Amaral, conhecido como “Didi”, como o segundo mandante do crime, ampliando a “teia do crime” que chocou o Brasil.
Um Atentado Cinematográfico
O caso começou com uma execução brutal às 16h10 de uma sexta-feira movimentada no Terminal 2 do aeroporto. Gritzbach, de 38 anos, acabara de desembarcar de uma viagem com a esposa quando foi surpreendido por cinco homens armados com fuzis. Eles desceram de um Gol preto, dispararam pelo menos 27 tiros e fugiram, abandonando o veículo a poucos quilômetros dali. Celso, que trabalhava como motorista na área de desembarque, foi atingido nas costas por um disparo de fuzil e morreu no local. Imagens das câmeras de segurança capturaram o pânico: Gritzbach tentou saltar uma mureta após o primeiro tiro, mas foi alvejado por dez balas em várias partes do corpo.
O Alvo: Um Delator Jurado de Morte
Gritzbach não era um desconhecido para o PCC. Ex-corretor de imóveis, ele se tornou um informante crucial em investigações sobre lavagem de dinheiro da facção, delatando até mesmo policiais corruptos em depoimentos à Corregedoria da Polícia Civil e ao Ministério Público. Dias antes de sua morte, ele havia prometido revelar a “hierarquia” de uma operação envolvendo o crime organizado, o que o colocou na mira da organização. Para o PCC, sua execução era uma questão de honra — e de “queima de arquivo”.
A Teia do Crime: Quem é Quem?
As investigações, conduzidas por uma força-tarefa do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo (MPSP), desenharam uma rede complexa de personagens. O relatório mais recente trouxe à tona Diego “Didi” Amaral como um novo mandante, mas ele não age sozinho.
Os Mandantes
- Emílio de Carlos Gongorra Castilho (“Cigarreiro”): Apontado inicialmente como o cérebro por trás do crime, Cigarreiro é um traficante com laços no PCC e no Comando Vermelho. Operava uma rádio FM na Avenida Paulista até dezembro de 2024 e está foragido, possivelmente escondido na Vila Cruzeiro, no Rio.
- Diego dos Santos Amaral (“Didi”): Revelado agora como o segundo mandante, Didi tem antecedentes por estelionato e tráfico. Sua entrada no caso reforça a tese de que o assassinato foi planejado por uma cúpula do PCC, com investimento estimado em mais de R$ 6 milhões.
Os Executores
- Cabo Denis Antônio Martins e Soldado Ruan Silva Rodrigues: Dois policiais militares indiciados como os atiradores. Usaram fuzis de calibres restritos (7.62×39 e .556 NATO) em plena luz do dia, em um local movimentado, para enviar um recado de poder da facção.
- Tenente Fernando Genauro da Silva: Preso como o motorista do carro usado na execução, é o 16º PM detido no caso. Sua defesa alega que ele não estava no local, mas a polícia mantém a acusação.
O Olheiro
- Kauê do Amaral Coelho: Flagrado por câmeras no saguão do aeroporto, Kauê, de 29 anos, teria avisado os atiradores sobre a chegada de Gritzbach. Foragido, ele já foi sócio de outro suspeito em uma tabacaria em Osasco e tem prisão decretada, com recompensa de R$ 50 mil por informações.
Outros Envolvidos
A teia se expande com mais de 26 presos, incluindo cinco policiais civis e 17 PMs, suspeitos de corrupção e associação criminosa. Há indícios de que alguns faziam “escolta ilegal” a Gritzbach, enquanto outros vazavam informações ao PCC. A polícia segue buscando cúmplices logísticos e financiadores, como Matheus Augusto de Castro Mota, que teria fornecido veículos para a fuga.
Corrupção e Vingança: Os Motores do Crime
O Ministério Público classificou o assassinato como uma “represália do PCC” contra a delação de Gritzbach, que causou um rombo de R$ 90 milhões à facção. O local escolhido — um aeroporto internacional — e o uso de armas pesadas mostram a intenção de gerar pânico e demonstrar força. “Foi uma emboscada para silenciar e intimidar”, afirmou o promotor Lincoln Gakiya ao CNN Entrevistas. A investigação também aponta para uma rede de subornos que envolveu até R$ 3 milhões negociados por um advogado ligado ao PCC, Ahmed Hassan Saleh, preso na Operação Tacitus.
O Que Vem Pela Frente?
Embora tenha havido avanços significativos, como os indiciamentos e prisões, o caso está longe do fim. O MPSP informou que as investigações continuam para identificar outros participantes e esclarecer a dinâmica completa do crime. O relatório final da Polícia Civil será entregue ao Ministério Público, que pediu a prisão preventiva de Cigarreiro, Didi e Kauê. Enquanto isso, a família de Gritzbach vive sob ameaças de morte, com o PCC cobrando uma suposta dívida de R$ 6 milhões.