Em 13 de maio de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou, durante visita a Pequim, acordos bilaterais que abrem cinco novos mercados agropecuários brasileiros na China. Carne de pato, carne de peru, miúdos de frango (coração, fígado e moela), grãos derivados do etanol de milho (DDG e DDGS) e farelo de amendoim foram liberados para exportação ao maior mercado consumidor do mundo. Firmados entre o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Administração Geral de Aduanas da China (GACC), os protocolos têm potencial de US$ 20 bilhões, segundo o Mapa, consolidando o Brasil como líder no agronegócio e parceiro estratégico da China em meio a tensões comerciais globais.
Contexto: Uma Parceria em Expansão
Evolução da Relação Bilateral
A relação Brasil-China, iniciada em 1974, consolidou a China como principal destino das exportações agrícolas brasileiras desde 2009. Em 2024, o país asiático importou US$ 49,7 bilhões em produtos do Brasil, equivalente a 36% do total exportado, apesar de uma queda de 17,5% em relação a 2023. Soja, carne bovina e celulose dominam, mas a abertura de mercados para produtos de maior valor agregado reflete a estratégia de diversificação do governo Lula.
Negociações e Diplomacia
Desde 2023, o Brasil abriu 362 mercados em 50 países, com a China respondendo por 20% dessas conquistas. As negociações para os cinco novos mercados começaram há dois anos e foram intensificadas pela visita de autoridades chinesas ao Brasil em abril de 2025, que também liberou o mercado de pescado. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, destacou: “A confiança na qualidade brasileira permitiu a maior abertura de mercados na China em um único anúncio.”
Novos Mercados: Produtos e Impactos
Os cinco produtos liberados atendem demandas específicas do mercado chinês e fortalecem cadeias produtivas brasileiras. A tabela abaixo resume as importações chinesas em 2024 e o potencial de cada produto:
Produto |
Importações da China (2024) |
Potencial e Impacto |
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Carne de pato |
US$ 1,4 milhão |
Usada em pratos tradicionais; pode gerar US$ 300 milhões em cinco anos (ABPA). |
Carne de peru |
US$ 50 milhões |
Cresce em fast-foods; Sul do Brasil planeja expandir produção. |
Miúdos de frango |
US$ 155 milhões |
Alta demanda na culinária asiática; Brasil pode dobrar participação. |
DDG/DDGS (etanol de milho) |
US$ 66 milhões |
Ração animal; Mato Grosso pode exportar 1,2 milhão de toneladas/ano (Unem). |
Farelo de amendoim |
US$ 18 milhões |
Beneficia Mato Grosso do Sul, com nova planta gerando 2 mil empregos. |
Benefícios Regionais
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Carne de pato e peru: Fortalecem frigoríficos em Santa Catarina e Paraná, com expansão planejada para atender a demanda chinesa.
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Miúdos de frango: Reforçam a liderança brasileira em carne de frango, com potencial para dobrar exportações.
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DDG/DDGS: Impulsionam usinas de etanol no Centro-Oeste, transformando Mato Grosso em polo industrial.
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Farelo de amendoim: Promovem a industrialização em Mato Grosso do Sul, com nova planta em Bataguassu.
Impacto Econômico: Crescimento e Empregos
Benefícios Quantificados
O Mapa projeta que os novos mercados gerem US$ 20 bilhões em exportações, com impactos diretos:
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Empregos: A avicultura prevê 60 mil novos postos, com frigoríficos expandindo no Sul.
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Investimentos: Usinas de etanol no Centro-Oeste podem atrair US$ 1,2 bilhão, segundo a Unem.
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Desenvolvimento regional: Mato Grosso do Sul, líder em milho e amendoim, deve ampliar sua participação nas exportações para a China, que já consome 50% de seus produtos.
Diversificação Econômica
A abertura reduz a dependência de commodities voláteis, como soja (-17% em 2024) e milho (-12,3%). Ricardo Santin, presidente da ABPA, afirmou: “Esses mercados consolidam a competitividade brasileira em segurança sanitária e inovação.”
Geopolítica: Brasil no Sul Global
Posicionamento Estratégico
Em Pequim, Lula defendeu um mundo multipolar, criticando o unilateralismo e destacando a cooperação Sul-Sul. Suas menções a conflitos em Gaza e Ucrânia reforçaram o Brasil como mediador global. A parceria com a China, que inclui infraestrutura e tecnologia, posiciona o Brasil como líder do Sul Global.
Oportunidades na Guerra Comercial
A guerra comercial EUA-China, intensificada por tarifas americanas, beneficia o Brasil. Em carne de frango, o país detém 50% do mercado chinês, contra 30% dos EUA. No sorgo, onde a China importa 83% do total global, o Brasil pode superar os americanos, impactados por barreiras.
Desafios: Sustentabilidade e Barreiras Técnicas
Obstáculos Operacionais
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Barreiras sanitárias: A suspensão de exportações de frango em 2024 devido à doença de Newcastle exige certificações rigorosas.
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Sustentabilidade: A China prioriza práticas ambientais, demandando avanços em programas como o Plano ABC+.
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Volatilidade: Quedas nos preços de commodities pressionam margens, exigindo eficiência logística.
Estratégias de Mitigação
Márcio Felix, da Unem, observa: “A diversificação para produtos como DDG e farelo de amendoim é crucial, mas depende de inovação e infraestrutura.”
Sinergia Público Privada
O sucesso reflete a colaboração entre governo e setor privado. A ABPA e a Unem superaram barreiras técnicas, enquanto a diplomacia de Lula e Fávaro construiu pontes políticas. A visita de autoridades chinesas em abril de 2025 foi um marco preparatório.
Perspectivas Futuras: Cooperação e Crescimento
Com 62 mercados abertos em 2025 e 362 desde 2023, o Brasil reafirma sua liderança no agronegócio. A parceria com a China, que abrange projetos como a ferrovia Bioceânica, promete crescimento mútuo. Lula destacou: “Brasil e China constroem um futuro de prosperidade compartilhada.”
Um Novo Capítulo para o Agronegócio
Os acordos de Pequim consolidam a parceria Brasil-China, gerando empregos, investimentos e diversificação econômica. Em um mundo de tensões comerciais, o Brasil se posiciona como fornecedor confiável e líder geopolítico, equilibrando crescimento, sustentabilidade e influência global.