Luiz Inácio Lula da Silva e Xi Jinping transformaram a cerimônia desta terça-feira (13 mai 2025) no Grande Palácio do Povo em um manifesto contra tarifas punitivas e hegemonias isoladas. Definiram-se como “vozes convergentes” em defesa de reformas profundas da ordem internacional e lançaram o maior pacote bilateral desde 2009: 34 acordos que somam US$ 19 bilhões em compromissos imediatos e criam instrumentos inéditos de cooperação em energia limpa, semicondutores, agronegócio rastreável e finanças em moeda local.
Por que a parceria subiu de patamar agora ?
-
Fragmentação geoeconômica – De 2020 para cá, taxas retaliatórias triplicaram no G20; cadeias críticas (chips, fertilizantes, baterias) encareceram até 40 %.
-
Transição climática – Brasil busca R$ 80 bilhões/ano para cumprir meta de reflorestamento; China precisa de novos mercados para sua tecnologia verde.
-
Guerra comercial EUA-China – A trégua tarifária de 90 dias entre Washington e Pequim é vista como tênue; Brasil oferece “corredor neutro” para escoar commodities e inserir manufatura de médio valor.
“Guerras comerciais não têm vencedores”, advertiu Lula. “Elevam preços, deprimem economias e corroem a renda dos mais vulneráveis.”
Xi respondeu que “protecionismo é veneno para a recuperação global” e defendeu reforma na OMC que puna sobretaxas sem laudo técnico.

Foto: Ricardo Stuckert/PR
O que está na carteira de 34 acordos
Pilar | Destaques | Valor previsto* |
---|---|---|
Infraestrutura verde | Crédito do Banco dos BRICS (NDB) para Ferrogrão, FIOL e modernização de sete portos | US$ 10 bi |
Energia & clima | Joint-venture Eletrobras-State Grid em linhas HVDC; parque solar “Sol do Sertão II” (Piauí) | US$ 7 bi |
Tecnologia crítica | Fábrica de chips de 28 nm em Campinas; satélite Cbers-6B p/ monitorar desmate em tempo real | US$ 2 bi |
Agronegócio inteligente | Plataforma blockchain Embrapa-Alibaba para rastrear carne/soja zero-desmate | — |
Finanças e moeda | Renovação do swap real-yuan (R$ 170 bi); clearing em São Paulo; estudo piloto e-CNY no comércio | — |
Sociedade & turismo | Vistos de 5 anos a estudantes; voo direto Shenzhen–São Paulo; intercâmbio audiovisual 8K | — |
*Estimativas do Itamaraty e Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma; números finais sairão até 60 dias.
Impacto regional: blindagem da América Latina
Lula enfatizou que “América Latina e Caribe são as maiores vítimas de choques externos”. A criação do Fundo Brasil-China de Estabilização de Commodities (US$ 3 bi iniciais) permite compras a termo de grãos e lítio, reduzindo volatilidade cambial em países vizinhos. Brasília também propôs corredor bioceânico agritech (Mato Grosso–Paraguai–Chile) com crédito do Eximbank chinês.
Paz como pré-condição de desenvolvimento
Os líderes publicaram o documento “Entendimentos Comuns Brasil-China para a Crise na Ucrânia”: cessar-fogo monitorado pela ONU, conferência de segurança em Viena e fundo verde de reconstrução. Para Gaza, defenderam “Estado palestino viável” e hospital de campanha financiado por Pequim e São Paulo.
Próximos marcos
Data | Ação | Objetivo |
---|---|---|
Jul 2025 | Missão BNDES-NDRC | Plano de desembolso da Ferrogrão |
Out 2025 | Cúpula BRICS+ Pantanal | Lançar plataforma climática conjunta |
Dez 2025 | GT de IA agrícola | Código ético para visão computacional no campo |
1º tri 2026 | Clearing yuan-real | Liquidar 35 % do comércio sem dólar |

Foto: Ricardo Stuckert