O conclave que escolherá o 267º papa da Igreja Católica terá início em 7 de maio de 2025, na Capela Sistina. Nesse ritual milenar, 133 cardeais — entre eles 60 indicados por Papa Francisco — permanecerão isolados do mundo exterior até a fumaça branca anunciar o sucessor de Francisco. Para garantir o sigilo absoluto, o Vaticano recorre a uma sofisticada combinação de protocolos centenários e tecnologia de ponta, criando um verdadeiro “bunker digital” no coração de Roma.
O cerco ao mundo exterior
Desligamento de torres de telefonia
Em parceria com a operadora estatal TIM, o Governatorato do Vaticano ordenou o desligamento de todas as torres de telefonia móvel dentro de um raio de aproximadamente 2 km, a partir das 15h locais (10h de Brasília) de 7 de maio, até a eleição do novo papa. Isso bloqueia chamadas de voz, SMS e dados móveis, neutralizando telefonemas e compartilhamento por WhatsApp ou redes sociais.
Bloqueadores de sinal (jammers)
Debaixo do piso elevado da Capela Sistina — estrategicamente levantado para ocultar cabos e dispositivos — foram instalados jammers profissionais, capazes de anular frequências de 700 MHz a 2,6 GHz, cobrindo padrões de 3G, 4G e 5G. Dispositivos secundários também funcionam junto às claraboias, impedindo interferências via antenas próximas.
Gaiola de Faraday permanente
Desde o conclave de 2013, a Capela dispõe de uma gaiola de Faraday invisível, construída com malha metálica finíssima embutida nas paredes e teto. Ela protege tanto contra tentativas de escuta por radiofrequência (RF) quanto contra dispositivos de gravação sem fio. Assim, sinais externos não penetram, e emissões internas (se alguém levasse um microfone escondido) não escapam.
Proteção física e pessoal
Controle biométrico de acesso
Todos os 133 cardeais e cerca de 200 assistentes (cozinheiros, motoristas, mordomos, faxineiros) passaram por cadastro biométrico — leitura de impressão digital e reconhecimento facial — para obter crachás eletrônicos que autorizam a circulação apenas em áreas pré-determinadas: Casa Santa Marta, Domus Sanctae Marthae, Capela Sistina e refeitório.
Juramento de sigilo perpétuo
Antes da reclusão, cada participante e colaborador assina um ** juramento canônico de sigilo absoluto**, sob pena de excomunhão latae sententiae (automática) caso revele informações do conclave. Esse compromisso reforça a inviolabilidade dos debates, votações e até dos comentários informais trocados nos corredores.
Monitoramento 24/7 por CCTV e IA
Câmeras de alta definição — inclusive infravermelho para vigilância noturna — cobrem corredores, acessos e os arredores do Palácio Apostólico. As imagens são processadas em tempo real por sistemas de inteligência artificial, que detectam comportamentos suspeitos: uso de dispositivos eletrônicos, aproximação de drones e movimentação atípica.
Defesa contra espionagem aérea
Proibição de drones e zona de exclusão aérea
O MINISTÉRIO DE TRANSPORTES ITALIANO decretou uma zona de exclusão aérea (NOTAM) sobre o Vaticano durante o conclave, proibindo voos de qualquer aeronave a até 3.000 pés de altitude. Forças Aéreas italianas mantêm vigilância por radar, e sistemas de interceptação de drones (counter-UAV) neutralizam equipamentos não autorizados.
Película antirreflexo nas janelas
Nas janelas da Capela Sistina aplicou-se uma película antirreflexo de alta densidade que impede imagens nítidas captadas por câmeras externas. Mesmo que um drone pairasse sobre o Vaticano, o filme distorce a luz, tornando impossível identificar rostos ou gestos através do vidro.
Ambiente livre de notícias e redes
Coleta de dispositivos pessoais
Na entrada para a Casa Santa Marta, cartões SIM, smartphones, tablets e smartwatches são recolhidos e lacrados até o fim do conclave. Os cardeais recebem aparelhos analógicos para emergências — telefones fixos isolados — mas sem conexão externa.
Proibição de jornais, revistas, rádio e TV
Apostolado sui generis: nenhum impresso ou eletrônico com notícias do mundo externo entra no perímetro. A única mídia presente é material de estudo teológico preparado pelo Vaticano, sem qualquer menção a eventos recentes.
Fortalecimento da integridade do voto
Urnas lacradas e sistema de votação
As cédulas são escritas à mão em papel especial, numeradas e assinadas pelo cardeal eleitor antes de serem depositadas em urnas de bronze. Ao final de cada sessão, oficiais lacram as urnas diante de testemunhas e conduzem as cédulas à sacristia para contagem, seguindo o rito descrito em Universi Dominici Gregis, documento que rege o conclave.
Queima de cédulas e fumaça
Após cada rodada de votação, as cédulas são queimadas com adição de “produtos especiais” para gerar fumaça preta (votação inconclusiva) ou branca (papa eleito). A composição química, desenvolvida pelo laboratório do Vaticano, procura minimizar cheiro e toxicidade, mas garantir visibilidade imediata na chaminé.
Lições de conclaves anteriores
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2013: primeira vez que a Capela Sistina recebeu jammers profissionais, após casos de rádio clandestina detectada nas paredes antigas.
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2005: conclave de Bento XVI teve falhas de sinal parcial, motivando testes de Faraday em salas adjacentes.
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1978: conclave de João Paulo II durou apenas dois dias; a agilidade reforçou a necessidade de automação de protocolos — posteriormente, implementou-se o uso de scanners de documentos e identificação via códigos de barras.
Avaliação de riscos e cenários de contingência
Ciberataques e sondagem eletrônica
O Vaticano reforçou seu SOC (Security Operations Center) com criptógrafos e analistas de cibersegurança, prontos para detectar tentativas de intrusão em sua rede privada. Embora as áreas de cardeais não estejam conectadas à internet, sistemas de CCTV e logística usam rede interna criptografada.
Fugas e evacuações
Planos de contingência preveem rotas de evacuação discretas em caso de emergência — incêndio, ataque terrorista ou vazamento químico. Equipes de bombeiros do Vaticano treinadas e a Gendarmeria Vaticana coordenam simulacros com trilhas sonoras silenciosas e lanternas de luz vermelha para não interromper o sigilo.
O valor do sigilo para a Igreja
O conclave representa o ápice do sensus ecclesiae — senso de Igreja — e o segredo garante que cada cardeal possa votar sem pressões políticas, midiáticas ou financeiras. As tecnologias e protocolos servem não apenas para proteger a escolha de um líder espiritual, mas para reafirmar a independência da Igreja frente a influências externas.