O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) instaurou nesta semana um inquérito para apurar suspeitas de manipulação de resultados envolvendo o atacante Bruno Henrique, do Flamengo. A decisão segue o envio de provas pela Polícia Federal (PF) ao tribunal em 5 de maio, após autorização da Justiça do Distrito Federal para compartilhamento de documentos. A investigação centra-se em um lance do Campeonato Brasileiro de 2023, quando o Flamengo perdeu para o Santos e o atleta recebeu cartão amarelo, supostamente combinado com apostadores ligados à sua família CNN BrasilUOL.
Contexto do caso e provas iniciais
Em fevereiro de 2025, a deputada Júlia Zanatta (PL-SC) apresentou requerimento à Câmara para esclarecer medidas adotadas pelo INSS em casos de descontos indevidos — diligência que, embora distinta, inspirou atenção parlamentar ao tema da integridade esportiva. No âmbito esportivo, a PF passou a investigar Bruno Henrique após indícios de que ele teria deliberadamente forçado cartão amarelo na partida contra o Santos, válida pela 31ª rodada do Brasileiro 2023. As principais provas são:
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Mensagens de WhatsApp entre o atleta e seu irmão, Wander Nunes Pinto Júnior, indicando que o jogador avisaria antecipadamente sobre a advertência UOL.
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Extratos financeiros de contas de familiares, que exibiram movimentações atípicas em plataformas de apostas esportivas.
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Relatório pericial sobre o vídeo do lance, sugerindo que a jogada não correspondia a necessidade tática, mas a um gesto premeditado.
Tramitação do inquérito no STJD
A condução do processo seguirá o rito previsto no Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). Após o recebimento das provas, o presidente do STJD, Luiz Otávio Veríssimo Teixeira, formalizou a abertura do inquérito. Em seguida:
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Nomeação de auditor: profissional escolhido para conduzir a investigação, colher depoimentos e solicitar perícias adicionais.
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Notificação do atleta: Bruno Henrique terá prazo para apresentar defesa prévia e indicar provas e testemunhas.
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Fase de instrução: inclui oitiva de membros da comissão técnica do Flamengo, árbitros que apitaram o jogo e especialistas em manipulação esportiva.
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Julgamento colegiado: após instrução, auditores deliberam pela punição ou absolvição, com possibilidade de recurso na Câmara de Julgamento do STJD Portal AZTerra.
Dispositivo legal e possível sanção
O atleta deve ser enquadrado no artigo 243, parágrafo 1º, do CBJD, que tipifica “manipular o resultado e prejudicar a própria equipe” como infração grave. A pena prevista varia de seis meses a dois anos de suspensão do futebol nacional. Em paralelo, o Ministério Público do Distrito Federal avalia eventual denúncia criminal por estelionato e fraude em competição esportiva, podendo resultar em ação civil pública e eventuais multas.
Repercussões para o Flamengo e o futebol brasileiro
Embora Bruno Henrique permaneça liberado para atuar pelo Flamengo — e a medida de afastamento preventivo seja considerada remota — o episódio gera desgaste institucional. Entre os impactos imediatos:
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Imagem do clube: pressionado a reforçar programas de compliance e educação sobre ética esportiva.
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Torcida e patrocinadores: insatisfação de sócios-torcedores e questionamentos de marcas associadas ao time.
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Debate nacional: acirramento de discussões sobre regulamentação de apostas esportivas e necessidade de sistemas de monitoramento em tempo real.
Historicamente, casos de manipulação no futebol brasileiro mobilizam autoridades e fomentam leis específicas. Em 2021, a CBF firmou acordo com a PF para troca de informações sobre apostas, mas o escândalo envolvendo um atleta do porte de Bruno Henrique pode acelerar novas normas.
Precedentes e comparações internacionais
A nível doméstico, o futebol já viveu episódios semelhantes, como o “máfia do apito” em 2005 e casos de manipulação em divisões inferiores. Entretanto, raramente um jogador de renome nacional é acusado formalmente em tribunal desportivo. No cenário internacional, a UEFA e a FIFA mantêm protocolos rígidos para coibir fraudes, com sistemas de alertas automáticos que correlacionam padrões de apostas e eventos em campo.
Especialistas sugerem que o STJD avalie adotar tecnologia semelhante, integrando dados de casas de aposta autorizadas e algoritmos de detecção de anomalias. Essa medida permitiria identificar antecipadamente tentativas de manipulação, promovendo respostas rápidas antes de danos ao espetáculo.
Direitos do atleta e fase de defesa
Enquanto o processo corre, Bruno Henrique goza de ampla defesa, com direito a:
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Acesso integral aos autos do inquérito e cópias dos relatórios.
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Produção de provas: contratação de perícia técnica independente e convocação de especialistas.
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Audiência de instrução: possibilidade de confrontar depoimentos e apresentar testemunhas de caráter.
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Recurso: caso condenado em primeira instância, recurso à Câmara de Julgamento e, posteriormente, ao Pleno do STJD.
Fontes ligadas ao jogador afirmam que a defesa planeja questionar a cadeia de custódia das provas e argumentar ausência de dolo — ponto central, já que o artigo 243 exige intenção clara de manipulação.
Caminhos para reforçar a integridade no futebol
O caso Bruno Henrique evidencia fragilidades que podem ser abordadas por medidas pró-ativas:
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Acordos de cooperação ampliados com a PF e Ministério do Esporte, com fluxo contínuo de informações.
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Monitoramento tecnológico: uso de inteligência artificial para cruzar dados de apostas e eventos em campo em tempo real.
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Educação obrigatória: módulos sobre manipulação esportiva no currículo de clubes e academias de base.
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Canais de denúncia anônima para atletas, familiares e terceiros relatarem condutas suspeitas sem medo de retaliações.
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Punições exemplares para inibir novos casos, combinando sanções esportivas e criminais.
Ao adotar essas diretrizes, a CBF, STJD e demais entidades colaborariam para fortalecer a credibilidade do futebol brasileiro e alinhar práticas a padrões internacionais de integridade.