O conclave do novo papa será aberto em 7 de maio de 2025 na Capela Sistina, exatamente onze dias após o funeral de Francisco. A data foi confirmada pelo camerlengo, cardeal Kevin Farrell, durante a primeira congregação geral dos cardeais na segunda-feira (28). Ao todo, 135 cardeais eleitores — todos com menos de 80 anos — serão isolados no Vaticano até que um deles alcance a maioria qualificada de dois terços, isto é, 90 votos.
Embora horários oficiais do rito ainda não tenham sido divulgados, o protocolo prevê que a jornada comece com a missa Pro eligendo Romano Pontifice na Basílica de São Pedro, seguida da entrada solene na Capela Sistina e, se houver tempo, um primeiro escrutínio à tarde. Por tradição litúrgica, a solenidade costuma iniciar por volta das 7 h locais; a procissão até o Juízo Final de Michelangelo ocorre cerca de duas horas depois. Esses horários permanecem previsões e podem ser ajustados pela Congregação para o Culto Divino.
Linha do tempo confirmada e etapas previstas
Data | Passo do processo | Observação |
---|---|---|
21 abr | Morte de Francisco | Óbito às 23h12 (Roma) |
26 abr | Funeral e sepultamento | Praça de São Pedro / Santa Maria Maggiore |
28 abr | Congregações gerais iniciadas | Cardeais alinham agenda |
7 mai | Abertura do conclave | Missa, juramento de sigilo, 1º escrutínio possível |
8–10 mai | Até quatro votações diárias | Duas manhã, duas tarde |
11 mai | Dia de pausa (se necessário) | Reflexão e confissão |
12 mai → | Ciclo de mais sete escrutínios | Retomado até eleição |
Se o impasse persistir além de 13 dias, o regulamento permite alterar o quórum; porém, nenhum dos últimos 11 conclaves superou quatro dias de decisão.
Como funciona o voto: do sigilo absoluto à fumaça branca
O sigilo é a alma do conclave do novo papa. Antes de entrar na Capela Sistina, cada cardeal deposita celulares, tablets e smartwatches em cofres lacrados. Técnicos da Gendarmaria vaticana varrem o local com scanners de radiofrequência e desmontam grades de ventilação para impedir microcâmeras. Qualquer violação implica excomunhão automática — norma reforçada por Francisco em 2021.
Dentro da capela, o processo segue sete passos claros:
-
Distribuição das cédulas com a fórmula latina Eligo in Summum Pontificem.
-
Cada cardeal escreve o nome do escolhido e dobra o papel duas vezes.
-
Em ordem de precedência, deposita a cédula em cálice de prata sobre o altar.
-
Três escrutinadores, sorteados publicamente, abrem e lêem em voz alta.
-
Os votos são costurados com linha para impedir trocas.
-
Se ninguém obtém dois terços, as cédulas são queimadas com produto que gera fumaça preta.
-
Ao surgir a eleição, um escrutinador pergunta ao eleito: Acceptasne? (Você aceita?). Se ele diz “Acepto”, a fumaça é branca.
Quem são os grandes favoritos — e as surpresas possíveis
Os cardeais evitam dar entrevistas, mas vaticanistas apontam quatro perfis que refletem correntes internas da Igreja:
-
Cardeal Matteo Zuppi (Itália, 69 anos) – Emissário de paz em Moçambique, carismático e próximo dos movimentos de base.
-
Cardeal Jean-Marc Aveline (França, 66) – Especialista em diálogo islâmico-cristão, ligado à reforma ambiental e migratória.
-
Cardeal Wilton Gregory (EUA, 76) – Primeiro afro-americano elevado ao cardinalato; firme em abuso zero e justiça racial.
-
Cardeal Odilo Scherer (Brasil, 75) – Experiência na comissão econômica da Santa Sé, ponte entre Norte e Sul Global.
Surpresas não faltam: conclaves já escolheram Wojtyła (1978) e Bergoglio (2013) longe do topo das listas. Italianos ainda citam o cardeal Paolo Lojudice, arcebispo de Siena, conhecido pelo trabalho com ciganos; e africanos veem chance na figura de Fridolin Ambongo (República Democrática do Congo), voz contra a mineração predatória.
Desafios que aguardam o novo pontífice
-
Sinodalidade em curso – Francisco abriu portas à participação laical; o sucessor precisará decidir se e como incorporar mulheres nos ministérios estáveis.
-
Transparência financeira – O Instituto para as Obras de Religião (IOR) reduziu contas suspeitas em 90 % desde 2015, mas investigações seguem abertas em Londres e Malta.
-
Crise climática – A encíclica Laudate Deum exige ações concretas. Qual papa liderará a diplomacia verde na COP 31?
-
Perda de fiéis na Europa – Alemães debatem abertamente ordenação de homens casados; franceses pedem revisão da liturgia pós-Covid.
-
Polarização interna – Grupos conservadores, como o Círculo de São Pio V, resistem a bênçãos pastorais de casais LGBTQIA+ aprovadas em 2024.
O momento da fumaça: logística e simbolismo
A fumaça branca costuma surgir entre 30 a 40 minutos após o escrutínio final. Tecnólogos suíços aprimoraram o sistema em 2005, adicionando cartuchos elétricos que garantem tonalidade inequívoca. Enquanto a chaminé fuma, os sinos de São Pedro repicam. Em média, 45 minutos depois, o novo papa aparece na Loggia das Bênçãos para proclamar Urbi et Orbi. Nos últimos casos, a entronização litúrgica aconteceu uma semana depois, em missa campal na Praça de São Pedro.
Por que a eleição repercute além da fé católica
O papa é chefe de Estado da menor nação do mundo, mas influencia debates globais: mediações entre Washington e Havana (2014), apelo a corredores humanitários na Síria (2016) e pressão moral pelo Acordo de Paris (2015). Agências de rating acompanham declarações papais sobre dívida africana; chancelerias monitoram posicionamentos sobre guerra na Ucrânia. Portanto, o resultado de maio repercutirá em diplomacia, mercados de energia limpa e políticas migratórias.
O que observar nos primeiros sinais
-
Nome escolhido – “Leão XIV” sugeriria reforma litúrgica; “João Paulo III” resgataria evangelização global.
-
Primeiras palavras – Referência direta a pobres ou à Casa Comum indicará continuidade franciscana.
-
Primeiras viagens – Se o novo papa escolher África ou Amazônia antes de Roma, sinalizará foco periférico.
Prepare-se: a partir de 7 de maio, cada coluna de fumaça, cada sino e cada sussurro na praça poderão anunciar um rumo inédito para 1,38 bilhão de católicos — e para o tabuleiro geopolítico mundial.