Enquanto seu nome é cada vez mais projetado por setores da direita e do Centrão como o principal herdeiro político de Jair Bolsonaro e candidato natural da oposição à Presidência em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), adota uma postura de extrema cautela e aplica um deliberado “freio de arrumação” nas articulações nacionais. Em reunião recente com seu secretariado e em conversas com aliados, a orientação foi clara: o foco absoluto é a gestão paulista e o projeto de reeleição em 2026. A ordem é “jogar parado”, conter a ansiedade e adiar qualquer definição sobre o Palácio do Planalto, uma estratégia calculada que visa tanto organizar a casa politicamente em São Paulo quanto aguardar o momento e, principalmente, o aval de Jair Bolsonaro.
Arrumando a Casa Primeiro: A Necessidade de Conter a Disputa Sucessória em SP
Um dos gatilhos para a ordem de Tarcísio de focar na reeleição foi o crescente “desconforto” gerado no Palácio dos Bandeirantes pela movimentação precoce de potenciais sucessores ao governo paulista. A simples possibilidade de Tarcísio deixar o cargo em abril de 2026 para disputar a Presidência já havia iniciado uma corrida nos bastidores entre nomes de peso da sua base aliada.
Figuras como o prefeito da capital, Ricardo Nunes (MDB), o influente Secretário de Governo, Gilberto Kassab (PSD), e o presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), já eram vistos como pré-candidatos naturais à sucessão estadual. Essa disputa interna antecipada, segundo aliados ouvidos pela CNN, começou a gerar ruídos e a tirar o foco da gestão. Ao instruir seu secretariado a concentrar esforços na reeleição e em projetos de longo prazo (com entregas previstas para depois de 2026), Tarcísio busca acalmar os ânimos, realinhar a equipe e evitar que a especulação sobre seu futuro paralise a administração estadual.
A Estratégia do “Jogo Parado”: Por Que a Cautela Presidencial?
Além da necessidade de conter a disputa interna em SP, a decisão de Tarcísio de “jogar parado” em relação a 2026 se baseia em outros cálculos estratégicos:
- Reeleição Bem Encaminhada: A percepção no entorno do governador é que sua candidatura à reeleição em São Paulo está politicamente “estruturada”, com um amplo arco de alianças costurado junto a partidos do Centrão e sem um adversário de peso claramente definido no campo da esquerda ou da terceira via que ameace sua “hegemonia” no estado mais rico da federação.
- Evitar Desgaste Precoce: Lançar-se ou articular abertamente uma candidatura presidencial neste momento (mais de dois anos antes da eleição) traria um “desgaste desnecessário”. Tarcísio se tornaria alvo preferencial de ataques de adversários e do próprio governo federal, além de correr o risco de atritos com a base bolsonarista mais fiel ao ex-presidente.
- Aguardar o Cenário: O cenário político e econômico nacional para 2026 ainda é nebuloso. Adiar a decisão permite a Tarcísio observar o desenrolar dos acontecimentos, avaliar o desempenho do governo Lula e medir a força de outros potenciais candidatos.
O Fator Bolsonaro: A Bênção Indispensável
Talvez o elemento mais crucial na estratégia de Tarcísio seja a dependência explícita da vontade de Jair Bolsonaro. Aliados são taxativos: o governador de São Paulo só será candidato ao Planalto se houver um “desejo explícito” do ex-presidente nesse sentido.
Isso demonstra que, apesar de inelegível, Bolsonaro ainda detém um capital político imenso e é visto como o grande eleitor da direita. Tarcísio, ciente disso e buscando evitar uma fratura no campo conservador, adota uma postura de lealdade e espera pela definição de seu padrinho político. A grande incógnita é quando e se essa bênção virá, e quais condições podem estar atreladas a ela.
O Calendário de Tarcísio: Horizonte em Dezembro de 2025
Coerente com a estratégia de espera e a dependência do aval de Bolsonaro, o prazo que Tarcísio teria estipulado internamente para “bater o martelo” sobre uma candidatura presidencial é distante: dezembro de 2025. Isso lhe dá mais de um ano e meio para focar na gestão paulista, consolidar sua base, observar o cenário e aguardar a definição de Bolsonaro, alinhando seu calendário pessoal ao do ex-presidente.
Tarcísio Prioriza SP e Joga Xadrez com Olhos em Bolsonaro
A ordem de Tarcísio de Freitas para que seu time foque na reeleição em São Paulo é um movimento político calculado e multifacetado. Visa, primariamente, conter disputas internas que ameaçavam a estabilidade de sua gestão. Estrategicamente, busca consolidar sua já forte posição no estado mais influente do país, evitar desgastes prematuros e aguardar o momento político ideal. E, fundamentalmente, demonstra sua leitura pragmática do cenário da direita, onde qualquer voo nacional mais alto parece depender, crucialmente, da bênção e do tempo de Jair Bolsonaro. Tarcísio joga parado, fortalece suas bases em São Paulo e mantém os ouvidos atentos aos sinais vindos do líder maior de seu campo político, num complexo jogo de xadrez onde a paciência parece ser, no momento, sua principal peça.