A pressão sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), para pautar o controverso projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro ganhou um novo capítulo nesta terça-feira (15 de abril de 2025). O relator da proposta, deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), manifestou publicamente sua “grande expectativa” de que o requerimento de urgência para o texto, protocolado pela oposição na véspera, seja levado ao plenário logo após o retorno de Motta de sua viagem ao exterior, depois do feriado de Páscoa. Valadares, que busca um encontro pessoal com o presidente da Casa para tratar do tema, reflete o otimismo e a estratégia de pressão da ala bolsonarista, que acredita ter os votos necessários para acelerar a tramitação da anistia. A declaração de Valadares sobre a urgência da anistia aumenta a temperatura política na Câmara, mesmo durante a ausência de seu presidente.
A Expectativa do Relator: Diálogo e Votação Pós-Feriado
Em declarações à CNN, Valadares deixou clara sua intenção de manter o tema aquecido. Mesmo com Hugo Motta fora do país e o Congresso em ritmo lento devido à proximidade da Páscoa (celebrada no próximo domingo, 20, no contexto da notícia), o relator sinaliza que a cobrança será imediata após o feriado.
“A expectativa é que, agora que foi protocolada a urgência, o presidente Hugo possa pautar na volta do feriado [de Páscoa]. Vamos aguardar o retorno de Hugo para definir isso”, afirmou Valadares.
Ele também indicou o desejo de conversar “pessoalmente” com Motta, sugerindo uma tentativa de articulação direta para convencer o presidente da Câmara a acatar o pedido da oposição.
O Contexto da Pressão: Urgência Protocolada e Oposição Mobilizada
A fala de Valadares se insere em um contexto de ofensiva da oposição. Na segunda-feira (14), o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou o requerimento de urgência munido de 262 assinaturas válidas – cinco a mais que o mínimo regimental de 257. O objetivo da urgência é claro: levar o projeto de anistia diretamente ao plenário, pulando a análise mais demorada e aprofundada das comissões temáticas, especialmente a possibilidade de uma comissão especial.
A oposição, através de seu líder Zucco (PL-RS) e agora do relator Valadares, demonstra não apenas capacidade de mobilização (ao coletar as assinaturas), mas também confiança em seus números. Há uma aposta de que, se a urgência for pautada, ela será aprovada pela maioria dos deputados presentes em plenário.
O Posicionamento Singular de Valadares
A posição de Rodrigo Valadares é particularmente notável. Embora pertença ao União Brasil, partido que possui ministérios no governo Lula e integra formalmente a base aliada, o deputado se declara como membro da oposição e foi um dos signatários do pedido de urgência.
Ele foi o relator original da proposta na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde chegou a apresentar um parecer favorável com ampliações no alcance da anistia (parecer que perdeu a validade após a retirada do projeto da comissão). Sua atuação confere a ele um papel de protagonista na defesa da proposta, mesmo vindo de um partido governista, ilustrando as divisões internas da sigla e a complexidade da base de apoio do governo.
A Tese da Oposição: Cobrando a Fatura da Eleição da Mesa?
Nos bastidores, aliados do projeto de anistia argumentam que Hugo Motta tem uma dívida política com os grupos de direita que apoiaram sua eleição para a presidência da Câmara. Pautar a urgência, nessa visão, seria uma forma de Motta não se indispor com essa base de apoio crucial.
Essa linha de argumentação busca colocar o presidente da Câmara em uma posição delicada, onde uma decisão técnica ou baseada na falta de consenso geral (posição que Motta sinalizou publicamente na terça) poderia ser interpretada como uma traição política por parte do campo bolsonarista.
Contraponto e Realidade: Falta de Consenso e Estratégia de Contenção
Apesar do otimismo e da pressão exercida por Valadares e pela oposição, a realidade política na Câmara ainda impõe obstáculos significativos. Conforme noticiado anteriormente, não há consenso sobre a anistia no Colégio de Líderes, e a maioria dos partidos (especialmente os da base governista e do centro) resiste à ideia de um perdão amplo para os atos de 8 de janeiro.
Hugo Motta, ciente dessa divisão, conta com o apoio da maioria dos líderes para não acelerar a tramitação. A tendência mais forte, como já apontado, continua sendo o envio do projeto para uma comissão especial, uma rota que permite mais debate, negociação e potenciais alterações no texto, esfriando a pressão por uma votação imediata e polêmica em plenário.
Pressão Aumenta, Mas Cenário para Votação Rápida Segue Incerto
As declarações do relator Rodrigo Valadares elevam a pressão sobre Hugo Motta para que defina rapidamente o destino do pedido de urgência da anistia do 8 de Janeiro após seu retorno. A oposição mostra otimismo e confiança nos números para aprovar o regime acelerado. Contudo, a falta de consenso entre os líderes partidários e a provável preferência de Motta por um caminho mais longo e negociado, via comissão especial, sugerem que as expectativas de Valadares podem não se concretizar facilmente. A queda de braço entre a pressão da oposição e a estratégia de contenção da presidência da Câmara definirá os próximos capítulos desta controversa proposta legislativa.