A sexta cirurgia enfrentada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desde o atentado a faca de 2018 foi não apenas longa – durando cerca de 12 horas no domingo (13) – mas também excepcionalmente complexa, devido ao estado severamente comprometido de sua parede abdominal. Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (14), o cirurgião-chefe da equipe, Dr. Cláudio Birolini, descreveu um cenário desafiador encontrado na sala de operação do Hospital DF Star, em Brasília: um “abdome hostil” e uma “parede abdominal bastante danificada”, consequências diretas tanto da facada inicial quanto das múltiplas intervenções cirúrgicas subsequentes. A condição exigiu um procedimento meticuloso para tratar uma nova obstrução intestinal, e a recuperação do ex-presidente na UTI é vista como gradual e sem previsão de alta. A complexidade da cirurgia de Bolsonaro, detalhada pelos médicos, joga luz sobre as sequelas físicas persistentes do ataque.
O Diagnóstico Intraoperatório: Um Campo Minado Cirúrgico
A avaliação do Dr. Birolini expõe a dificuldade técnica enfrentada pela equipe. O termo “abdome hostil” é usado na medicina para descrever uma cavidade abdominal que foi alterada por cirurgias anteriores, inflamações ou traumas, resultando em:
- Aderências Extensas: Formação maciça de tecido cicatricial (as “dobras” mencionadas por Bolsonaro) que cola órgãos e tecidos uns aos outros, dificultando a visualização e manipulação cirúrgica e, neste caso, causando a obstrução intestinal (suboclusão).
- Anatomia Alterada: A localização normal dos órgãos pode estar distorcida, aumentando o risco de lesões acidentais durante o procedimento.
- Parede Abdominal Comprometida: O dano específico à parede, fruto da perfuração inicial pela faca e das incisões e reparos cirúrgicos anteriores, enfraquece a estrutura e torna a reconstrução mais complexa.
“Era um abdome hostil, múltiplas cirurgias prévias. Aderências causando um quadro de obstrução intestinal e uma parede abdominal bastante danificada em função da facada, das cirurgias prévias. Isso já antecipava que seria um procedimento bastante complexo e trabalhoso”, explicou Birolini, indicando que a equipe já esperava um cenário difícil.
Doze Horas de Trabalho Intenso: Desobstruir e Reconstruir
A longa duração da cirurgia (12 horas) reflete a natureza meticulosa do trabalho necessário. Os objetivos principais foram:
- Lise de Aderências: Identificar e cortar cuidadosamente as aderências que estavam causando a obstrução do intestino delgado, restaurando o fluxo normal. Este é um processo delicado para evitar novas lesões.
- Reconstrução Abdominal: Embora não detalhado, o dano à parede abdominal mencionado por Birolini sugere que parte do procedimento pode ter envolvido algum tipo de reparo ou reconstrução dessa estrutura, adicionando tempo e complexidade à cirurgia.
“A Mais Complexa” Desde o Atentado: Um Marco de Gravidade
Reforçando a seriedade da situação, o médico cardiologista Leandro Echenique, que acompanha Bolsonaro, classificou esta cirurgia como a mais complexa das seis realizadas desde o atentado de 2018. Embora a duração fosse “esperada” pela equipe, dada a avaliação pré-operatória, a classificação de “mais complexa” sinaliza um possível agravamento da condição abdominal ao longo do tempo ou a necessidade de uma intervenção mais profunda desta vez.
O Ciclo Vicioso das Aderências: A Sequela que Não Cede
A recorrência de obstruções intestinais em Bolsonaro ilustra um desafio médico comum após grandes traumas ou cirurgias abdominais. O próprio processo de cicatrização pode levar à formação de aderências. Estas faixas de tecido fibroso podem “dobrar” ou “estrangular” partes do intestino, causando obstruções parciais (suboclusões) ou totais, que frequentemente exigem novas cirurgias para serem liberadas.
No caso de Bolsonaro, a facada inicial causou danos extensos, exigindo múltiplas intervenções emergenciais e reparadoras. Cada uma delas, embora vital, aumentou o risco de novas aderências, criando um ciclo difícil de quebrar e explicando as nove internações e seis cirurgias relacionadas ao episódio em quase sete anos.
Recuperação na UTI: Estabilidade Exige Vigilância
Conforme o próprio ex-presidente relatou e a equipe médica confirma, seu estado pós-operatório é estável, mas a magnitude da cirurgia e a condição “hostil” do abdome justificam a permanência na UTI para cuidados intensivos. Isso envolve monitoramento rigoroso de sinais vitais, controle da dor, prevenção de infecções e acompanhamento da retomada da função intestinal. A recuperação será “gradual”, e a ausência de previsão de alta indica que o processo exigirá tempo e observação cuidadosa.
As Cicatrizes Físicas e a Batalha Contínua Pela Saúde
As declarações da equipe médica que operou Jair Bolsonaro oferecem um vislumbre contundente da severidade das sequelas físicas deixadas pelo atentado de 2018. Um “abdome hostil” e uma “parede danificada” são o legado de quase sete anos de complicações e cirurgias recorrentes. A complexidade do procedimento de 12 horas e a necessidade de cuidados intensivos na UTI sublinham que a batalha do ex-presidente pela saúde está longe de terminar. Enquanto ele inicia mais um processo de recuperação gradual, fica evidente o impacto profundo e duradouro daquele ato de violência em sua integridade física.