Trump Adota Tática Dupla: ‘Pausa’ Tarifária para Aliados, Mas Eleva Taxa sobre China a Brutais 125%
Movimento busca isolar Pequim e forçar negociação, oferecendo alívio temporário a outros parceiros; Mercados reagem positivamente à redução parcial do risco global, mas escalada sino-americana atinge novo ápice.
Em uma reviravolta surpreendente e carregada de implicações, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (9 de abril de 2025) uma mudança drástica em sua política tarifária, adotando uma estratégia de dois gumes: ao mesmo tempo em que ofereceu uma “pausa” temporária e uma redução de tarifas para dezenas de países, ele aplicou um golpe duríssimo e sem precedentes contra a China, elevando as taxas de importação sobre produtos chineses para impressionantes 125%, com efeito imediato. A manobra, comunicada via rede social Truth Social, parece destinada a isolar Pequim, forçá-la à mesa de negociações sob extrema pressão, e talvez, cooptar outros parceiros comerciais, enquanto o mundo prende a respiração diante da intensificação do conflito entre as duas maiores economias do planeta. A ameaça das tarifas de Trump sobre a China atingindo 125% marca um novo e perigoso capítulo na disputa comercial global.
A ‘Válvula de Escape’: Pausa de 90 Dias e a Tarifa de 10%
A primeira parte do anúncio de Trump trouxe um alívio, ainda que temporário e parcial, para muitos países pegos no fogo cruzado das recentes escaladas tarifárias. O presidente declarou:
“Autorizei uma PAUSA de 90 dias e uma Tarifa Recíproca substancialmente reduzida durante esse período, de 10%, também com efeito imediato.”
Esta medida se aplica, segundo o contexto, aos 57 países que enfrentariam, a partir da madrugada desta quarta-feira, tarifas retaliatórias americanas superiores a 10%. Para estes, a taxa cai para um teto de 10% durante os próximos três meses, período que Trump sinaliza como uma janela para negociações bilaterais. É importante notar que países já sujeitos a tarifas de até 10% – como o Brasil, alvo de uma taxa de 10% desde sábado (5) – não são beneficiados por esta pausa; suas tarifas permanecem inalteradas.
Essa “pausa” pode ser interpretada como uma tática de “good cop”, buscando:
- Reduzir o dano colateral da guerra comercial sobre economias aliadas ou parceiras.
- Diminuir a pressão inflacionária e a instabilidade nos mercados globais (o que explicaria a reação positiva inicial de Wall Street).
- Incentivar negociações individuais com os EUA sob a ameaça implícita do retorno das tarifas mais altas após 90 dias.
O Martelo sobre Pequim: A Tarifa Punitiva de 125%
Enquanto oferecia um respiro a outros, Trump desferia o golpe mais duro até agora contra seu principal adversário comercial. A elevação da tarifa sobre a China para 125% é uma medida de impacto extremo, que na prática pode funcionar como um embargo a uma vasta gama de produtos chineses, tornando sua importação economicamente inviável para os EUA.
A justificativa de Trump foi direta e carregada de acusações:
“Com base na falta de respeito que a China demonstrou aos mercados mundiais, estou aumentando a tarifa cobrada da China pelos Estados Unidos da América para 125%, com efeito imediato. Em algum momento, espero que em um futuro próximo, a China perceberá que os dias de exploração dos EUA e de outros países não são mais sustentáveis ou aceitáveis.”
Essa ação representa a face “bad cop” da estratégia: isolar, punir e pressionar Pequim ao máximo, buscando forçar concessões significativas em futuras (e agora suspensas) negociações. A medida ignora a retaliação imediata que a China já havia imposto horas antes (elevando suas taxas sobre produtos dos EUA para 84% e restringindo 18 empresas americanas) e escala o conflito a um nível sem precedentes.
Mercados Reagem com Alívio Cauteloso
Curiosamente, após o anúncio duplo de Trump, as bolsas de valores em Wall Street apresentaram alta. Isso sugere que os investidores focaram mais no alívio proporcionado pela “pausa” de 90 dias para dezenas de países – o que reduz o risco de uma conflagração comercial generalizada e imediata – do que na escalada brutal contra a China. Contudo, a sustentabilidade desse alívio é questionável, dada a magnitude do conflito sino-americano e seus potenciais efeitos sobre o crescimento global.
Retórica Oficial vs. Realidade da Guerra Comercial
As declarações de membros do governo Trump tentam suavizar a percepção de caos. O Secretário do Tesouro, Scott Bessent, negou que se trate de uma “guerra comercial”, afirmando que a alta sobre a China visa “maus atores” e responde à “insistência deles na escalada”. Ele reiterou a visão de que a China é a “maior fonte dos problemas comerciais dos EUA” e do mundo.
“Não estou chamando isso de guerra comercial, mas estou dizendo que a China intensificou a tensão, e o presidente Trump respondeu com muita coragem a isso…” – Scott Bessent
Enquanto isso, o conselheiro comercial Peter Navarro rebatia as críticas de Wall Street (“Nellies nervosos”), reafirmando a força negociadora de Trump e o objetivo de “nivelar o campo de jogo” e reduzir déficits comerciais através da pressão tarifária. Essa dissonância entre a negação de uma guerra e a aplicação de tarifas de 125% evidencia a complexidade e a agressividade da doutrina comercial da administração.
A China, por sua vez, através de seu Ministério das Finanças, já havia classificado a escalada americana anterior (de 104%) como um “erro em cima de um erro”, prejudicial aos direitos chineses e ao sistema multilateral de comércio. A reação à tarifa de 125% é aguardada com apreensão.
O Xadrez Geopolítico: Isolando a China, Reagrupando Parceiros?
A menção de Bessent a negociações com Vietnã, Japão, Coreia do Sul e Índia reforça a ideia de que a estratégia americana pode envolver a construção de cadeias de suprimentos alternativas e o fortalecimento de laços com outros países asiáticos e parceiros estratégicos, buscando reduzir a dependência da China.
Para países como o Brasil, que ficaram de fora da “pausa” e mantêm a tarifa de 10%, o cenário é de incerteza. Embora não alvos da fúria máxima direcionada à China, permanecem sujeitos às políticas tarifárias americanas e aos efeitos indiretos da instabilidade global gerada pelo conflito principal.
Conclusão: Uma Jogada de Alto Risco com Futuro Incerto
A decisão de Donald Trump de aplicar uma terapia de choque diferenciada – alívio condicional para muitos, pressão máxima sobre a China – é uma jogada de alto risco que redefine a guerra comercial. Se por um lado pode ter acalmado momentaneamente os mercados ao limitar o escopo inicial do conflito mais amplo, por outro, eleva a tensão com Pequim a um nível extremo, com potencial para consequências econômicas globais imprevisíveis e duradouras.
O sucesso dessa estratégia dependerá da reação da China, da disposição de outros países em negociar sob as condições impostas por Trump dentro de 90 dias, e da capacidade da economia americana e mundial de absorver o impacto da tarifa de 125%. O que está claro é que a administração Trump dobrou a aposta, e o futuro do comércio global entrou em um período de incerteza ainda maior.
