Decisão de Trump de usar Lei de Inimigos Estrangeiros gerou tensão diplomática e questionamentos legais
O diretor da CIA, John Ratcliffe, declarou nesta quarta-feira (26) que os Estados Unidos não estão em guerra nem sob ameaça de invasão pela Venezuela, contrariando a justificativa dada pelo presidente Donald Trump para deportar venezuelanos acusados de pertencer à gangue criminosa Tren de Aragua.
Ratcliffe fez as declarações durante audiência no Comitê de Inteligência da Câmara dos Representantes, esclarecendo que a agência não possui informações ou avaliações que indiquem uma situação de conflito armado com o país latino-americano.
Entenda a polêmica das deportações sob lei especial
No começo do mês, Trump acionou a controversa Lei de Inimigos Estrangeiros, utilizada anteriormente apenas em períodos declarados de guerra, para deportar rapidamente mais de 200 cidadãos venezuelanos sem processo judicial adequado. Esses indivíduos foram enviados para El Salvador, onde permanecem detidos em uma prisão antiterrorismo.
A decisão gerou reação imediata no sistema judiciário norte-americano, com um juiz bloqueando temporariamente a medida devido à ausência de evidências suficientes para caracterizar situação de guerra ou emergência nacional. Ainda assim, o governo prosseguiu com as deportações.
Conflito interno na inteligência dos EUA sobre ameaça venezuelana
A fala de Ratcliffe também contrapõe declarações anteriores da diretora nacional de Inteligência, Tulsi Gabbard, que afirmou existirem diferentes avaliações dentro das agências de inteligência sobre ações hostis supostamente conduzidas pela Venezuela por meio da gangue Tren de Aragua.
Segundo Gabbard, haveria elementos indicando um esforço venezuelano em prejudicar a segurança interna dos Estados Unidos, justificando o uso da legislação excepcional. Ratcliffe, porém, destacou que as análises da CIA não sustentam essa tese.
Histórico controverso da Lei de Inimigos Estrangeiros
A Lei de Inimigos Estrangeiros, invocada pelo presidente Trump, é uma legislação excepcional criada para situações de guerra, utilizada poucas vezes na história americana. A última aplicação significativa ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, para prender e expulsar imigrantes de países inimigos, como Alemanha, Itália e Japão, residentes em território norte-americano.
O uso recente dessa lei para justificar deportações em tempos de paz levantou graves questionamentos constitucionais e políticos sobre a legitimidade dessa ação.
Próximos capítulos da crise diplomática e legal
Com a declaração do diretor da CIA, é provável que as contestações jurídicas à decisão presidencial sejam reforçadas, ampliando a crise diplomática com a Venezuela. Além disso, grupos de defesa dos direitos civis nos EUA prometem intensificar ações judiciais contra o governo federal.
Trump insiste que as deportações são necessárias por motivos de segurança nacional, enquanto opositores argumentam que a aplicação indevida dessa legislação coloca em risco garantias constitucionais fundamentais.